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Mostrando postagens de setembro, 2025

O Ícone do 'Salvar' Não É Relíquia: É Espelho

Há quem ache graça quando uma criança olha para um disquete antigo e pergunta se é “o ícone do salvar impresso em 3D”. Risada garantida, piada pronta. Mas, convenhamos: por trás da anedota de tecnologia antiga sempre espreita uma metáfora desconfortável — a de que tudo o que hoje nos parece sólido e indispensável, amanhã será apenas peça de museu, ou piada de estagiário. O mercado financeiro, por sinal, é especialista nesse truque de ilusionismo: transforma o eterno em descartável e o descartável em ouro reluzente, até que a próxima moda chegue para decretar obsolescência. Um fax, já diria o aspirante a inventor visionário, nada mais é do que um e-mail analógico que exigia papel, linha telefônica e paciência zen. O que dizer, então, da nossa fé atual em aplicativos que prometem enriquecer com três cliques? Amanhã, talvez uma criança pergunte: “Esse era o app que ensinava adulto a gastar menos do que ganha? Nossa, que coisa pré-histórica!”. Assim como o LP foi rebatizado de “CD gigant...

Honestidade Dá Lucro (e Outras Verdades Que os Cursos de Administração e Finanças Não Contam)

Quando foi a última vez que alguém te recomendou estudar contabilidade sem te prometer um milhão em 12 meses? Pois é. Vivemos numa era em que a palavra “lucro” foi sequestrada por gurus de internet com dentes perfeitamente alinhados e gráficos coloridos saindo da orelha. Nessa selva de promessas de “mentalidade milionária” e “carteiras de liberdade financeira”, ouso começar este texto com uma proposta indecente: e se você aprendesse a lidar com dinheiro sem virar um mercenário emocional? Não se assuste, eu não vim evangelizar ninguém. Só quero te contar, com meu olhar crítico e uma dose de sarcasmo, como princípios práticos — e nada sexys — como honestidade, economia e senso de realidade são, na verdade, as verdadeiras moedas fortes desse mercado tão alucinado quanto um trader em dia de café duplo. Aprender Contabilidade é Melhor que Comprar Bitcoin na Lua Sim, eu sei. A palavra “contabilidade” tem o mesmo apelo de “colonoscopia preventiva” para muita gente. Mas aqui entre nós: apre...

Investir é Plantar na Chuva e Colher no Silêncio — Por que o lucro não avisa quando brota

Dizem que investir é como plantar: exige paciência, um pouco de fé e disposição para lidar com o clima — que, como o mercado, nunca consulta seu calendário antes de mudar de humor. Eu, pessoalmente, prefiro pensar que investir é como lidar com um vizinho excêntrico que insiste em lhe oferecer preços diários pela sua casa: na segunda, ele te oferece uma ninharia; na terça, quer pagar o dobro; na quarta, ignora você porque estava ocupado brigando com o cachorro. E você ali, firme, lembrando-se de que o valor da sua casa não muda porque ele acordou mal-humorado. Foi observando histórias assim que aprendi a olhar para investimentos: não como figurinhas brilhantes de um álbum que se trocam no recreio, mas como algo mais prosaico — e mais sólido. O tipo de coisa que não exige consultas diárias ao oráculo do noticiário econômico, mas sim a capacidade de fazer perguntas simples e tolerar o silêncio das respostas. Não se trata de ser especialista. Um casal que conheci, por exemplo, comprou um p...

O PIB Não Usa Bengala: Como a Economia Finge Que Pessoas com Deficiência Não Existem

Comecemos pelo óbvio que ninguém gosta de dizer em voz alta: a economia oficial tem baixa visão. Enxerga taxas e gráficos com nitidez, mas tropeça nos corpos que não cabem na régua. Se o PIB é um telão em 4K, a vida de quem precisa de acessibilidade costuma ser lida num rádio chiado. E, quando a imagem falha, o sistema faz aquilo que o sistema faz de melhor: culpa o usuário. De cada cem pessoas que circulam no planeta, algo como dezesseis vivem com alguma forma de deficiência — um em cada seis de nós. Não é minoria técnica; é maioria ignorada pela contabilidade do costumeiro “não dá”. Não precisa acreditar em mim: é o que os dados internacionais indicam, com todas as letras e sem romantismo. “Mas e o Brasil?” — pergunta quem gosta de números como quem gosta de ver para crer. O retrato oficial mais recente aponta algo na vizinhança de um dígito, dependendo da régua metodológica aplicada. É aqui que a lupa ética entra em cena: a forma de perguntar define o que se enxerga. O Censo 2022 ...

A Elegância de Esperar: Por que Investir Também É um Ato de Paciência Radical

Dizem que o tempo é dinheiro. Mas, curiosamente, nos investimentos, é o contrário: é o dinheiro que se revela com o tempo — e apenas aos que sabem esperá-lo. Meus queridos e minhas queridas, o mercado financeiro tem pressa, sim, mas só para vender promessas. Para colher retornos de verdade, a pressa atrapalha. E como atrapalha. Hoje quero falar sobre um gesto subestimado, quase escandaloso na era do imediatismo: esperar. E não me refiro à espera passiva de quem empurra boletos com a barriga enquanto sonha com o próximo “milhão fácil” prometido por algum paladino da mentalidade vencedora. Refiro-me à espera ativa, aquela que exige coragem, discernimento e uma resistência quase poética à ansiedade coletiva. Quando todo mundo corre, quem para é revolucionário É claro que o mercado grita. Ele berra gráficos coloridos, curvas ascendentes, análises histéricas e projeções que mudam mais que os humores de Brasília. Enquanto isso, o investidor ou a investidora que ousa não fazer nada — que e...

O Patriota do Extrato Bancário: como a hipocrisia nacional também rende dividendos

A palavra “nação” é uma dessas invenções geniais que cabem em qualquer bolso — de preferência, no bolso fundo de quem já tem a carteira recheada. É um termo que desfila com pompa em discursos inflamados, mas que, quando você puxa a planilha da vida real, se comporta como uma célula vazia no Excel: qualquer dado que você colocar ali parecerá plausível. Para uns, “nação” é a bandeira hasteada na sacada do prédio de luxo; para outros, é o meme compartilhado com fúria em grupos de família. E, para quase todos, é o álibi perfeito para manter as coisas exatamente como estão. É curioso como a tal “pátria amada” costuma ser invocada com ardor sempre que os privilégios do invocador correm o menor risco de sofrer arranhão. “Nação acima de tudo!” — grita o acionista, até que a mesma nação cogite tributar seus dividendos. Nesse instante, a bandeira tremula apenas no varal da lavanderia. O patriotismo, descobrimos, é um ativo de liquidez diária: está em alta quando protege fortunas, e em baixa qua...

O Dinheiro Que Queima: Como Empresas Distribuem Amor (e Dividendos) em Notas Tóxicas de R$100

O Fluxo Que Encanta — e Quebra O capitalismo tem um talento peculiar para maquiar um enterro como se fosse um desfile. Não é raro ver empresas quebrando em câmera lenta enquanto seus balanços sorriem para os analistas, acenando com lucros polidos e dividendos maquiados como debutantes em busca de pretendentes desavisados. Mas aqui entre nós — que já paramos de nos iludir com “mentalidades milionárias” e “liberdades financeiras” vendidas em cápsulas aromatizadas de autoajuda — há algo que precisa ser dito: lucro contábil é como um sorriso no velório. Pode ser sincero, mas quase sempre é de conveniência. Porque o que realmente mantém uma empresa viva, respirando, pulsando e pagando os boletos — inclusive os nossos dividendos sonhados — é o fluxo de caixa. O bendito, sagrado e frequentemente ignorado Fluxo de Caixa Livre , também conhecido pela sigla FCL ou, se você quiser soar mais chique na mesa do brunch, Free Cash Flow . E por que isso importa? Porque, meu bem, é da “sobra” de din...

Fatia da Mente ou Farsa do Marketing? — Por que a Coca é mais eterna que sua aposentadoria?

Onde mora o dinheiro? Na mente, meu bem. Você já se perguntou por que uma criança de três anos reconhece o logotipo de uma empresa antes de conseguir escrever o próprio nome? Não é bruxaria, tampouco talento precoce. É marketing, é domínio, é ocupação de território — e o território em disputa é o córtex pré-frontal da sua inocência. Sim, meu caro leitor: o que move bilhões em ativos e dividendos todos os dias não é a tecnologia por trás do produto, nem a suposta “inovação disruptiva” celebrada em eventos de gente muito pálida com blazer azul-marinho. O que importa é o que essa marca evoca — não no balanço, mas no seu cérebro. Isso mesmo. O mercado, que adora simular racionalidade, é um eterno refém de um fenômeno profundamente emocional chamado fatia da mente . Você pode até esquecer o que jantou ontem, mas vai lembrar da musiquinha da Disney até cansar de pedir música no Fantástico. Coca no topo da muralha, e você no rodapé da planilha Tem gente que acredita que Coca-Cola é refri...

Dormindo com o Mercado: A Nova Geração de Opióides Financeiros: Por que investimos mais em promessas do que em vida real?

Existe dor que dói. E existe dor que sustenta. A primeira nos faz gritar. A segunda, investir. Na vitrine da farmácia da alma contemporânea, os comprimidos deixaram de ser brancos e ovais. Agora têm forma de gráfico, voz de mentor digital e cheiro de eucalipto institucional. São podcasts que prometem “mudar sua vida financeira em 3 passos”. São workshops de “mindset de abundância” com preço promocional em doze vezes. São CEOs que acordam às 5 da manhã para correr e fingir que o mercado é justo. São anestesias performáticas — e nem precisam de receita. Ninguém diz, mas quase todo mundo sabe: o mercado financeiro virou o novo opioide das massas. E o investidor moderno? Um farmacêutico emocionado, tentando receitar lucidez com bula de autoajuda. Quando a dor não cabe no gráfico Há quem ache que ansiedade se cura com dividendos mensais. Que solidão se resolve com um portfólio diversificado. Que envelhecer sem propósito se corrige com metas SMART. A dor de existir não aparece na DRE d...

O Amor em Tempos de CDI: Por Que Minha Carteira Apanha Mais que Eu no Jiu-Jítsu (e Ainda Assim Eu Sorrio)

Sim, eu sei. Está difícil amar o longo prazo. Ele não responde suas mensagens, ignora seus gráficos, some por semanas e, quando reaparece, traz um boletim de desempenho que faria qualquer trainee de fundo ser devolvido à prateleira do LinkedIn com etiqueta vermelha de “recolhimento imediato”. A tentação da renda fixa está por todos os lados. Sedutora. Rentável. Silenciosa. Ela não grita, não oscila, não desafia seu coração. Entrega dois dígitos sólidos ao ano como quem entrega flores — mas flores artificiais, sem cheiro, sem espinhos, sem alma. E você, pobre sonhador de dividendos, começa a se perguntar: “Pra quê correr esse risco, se posso ganhar com paz e sem Prozac?” Ah, meu bem... senta que lá vem a carteira. Uma Carteira que Derrapa, mas Não Desiste Vamos aos fatos: minha carteira, aquela que tanto defendo com o fervor de quem acredita em reencarnação, tem tomado mais rasteira que iniciante em campeonato de capoeira. Nos últimos 12 meses: – Metade dos meses perdeu para a infl...

O Mito do Gênio e a Mentira da Curva: Quem Disse que o Sucesso É Só Questão de Esforço?

Há quem acredite que o sucesso é como uma flor rara: nasce do acaso, floresce no solo da genialidade e só pode ser colhida por quem nasceu na estação certa, com o sol no signo da oportunidade e a lua em trigono com a meritocracia. Poético. E profundamente conveniente. Conveniente para quem chegou lá e precisa justificar o “lá” como fruto de esforço, sem mencionar os adubos generosos da sorte. Conveniente para quem nunca chegou, porque aí o fracasso se converte em injustiça cósmica, calendário ingrato, carma generacional. Como se o mérito estivesse nas estrelas — ou nas estatísticas. Pois hoje eu venho falar deles: os “fora da curva”. Esses personagens que ocupam prateleiras de livrarias e cadeiras de conselhos administrativos. Gente que, dizem, venceu “apesar de tudo” — quando, na verdade, venceu por causa de quase tudo . De que curva estamos falando? O primeiro problema é a própria curva. Quem a traçou? Com base em quais medidas, em qual época, com quais réguas? Chamar alguém de “...