Honestidade Dá Lucro (e Outras Verdades Que os Cursos de Administração e Finanças Não Contam)
Quando foi a última vez que alguém te recomendou estudar contabilidade sem te prometer um milhão em 12 meses? Pois é. Vivemos numa era em que a palavra “lucro” foi sequestrada por gurus de internet com dentes perfeitamente alinhados e gráficos coloridos saindo da orelha. Nessa selva de promessas de “mentalidade milionária” e “carteiras de liberdade financeira”, ouso começar este texto com uma proposta indecente: e se você aprendesse a lidar com dinheiro sem virar um mercenário emocional?
Não se assuste, eu não vim evangelizar ninguém. Só quero te contar, com meu olhar crítico e uma dose de sarcasmo, como princípios práticos — e nada sexys — como honestidade, economia e senso de realidade são, na verdade, as verdadeiras moedas fortes desse mercado tão alucinado quanto um trader em dia de café duplo.
Aprender Contabilidade é Melhor que Comprar Bitcoin na Lua
Sim, eu sei. A palavra “contabilidade” tem o mesmo apelo de “colonoscopia preventiva” para muita gente. Mas aqui entre nós: aprender a linguagem dos negócios é o tipo de heresia intelectual que separa os sócios dos seguidores. Quando você entende o que é margem bruta, custo fixo, fluxo de caixa e alavancagem operacional, começa a enxergar que a maioria das startups que fazem barulho na mídia tem mais fumaça do que lenha. E o que não falta é investidor de Instagram assando marshmallow nessa fogueira.
Se a contabilidade fosse sexy, ela teria um canal no TikTok. Mas não. Ela segue discreta, rigorosa e um pouco rabugenta. E justamente por isso, é confiável. Enquanto os algoritmos mudam a cada três meses, o balanço patrimonial segue ali, com sua melancolia de Excel e sua poesia em débito e crédito. Se você realmente quer entender onde está se metendo quando compra uma ação ou investe num negócio, aprenda contabilidade. Não é charmosa, mas evita tragédias.
Gaste Menos do que Ganha (Sim, Isso Ainda Funciona)
Ah, a boa e velha frugalidade. Ela voltou, meus caros. Não na versão “viva como um monge e economize até no papel higiênico”, mas na sua essência mais elegante: gastar menos do que se ganha porque é inteligente, e não porque é moda.
Não tem nada de heroico em ostentar boletos. E sinceramente, usar o cartão de crédito como extensão da autoestima já arruinou mais futuros do que qualquer crise econômica. A lógica é simples e infalível: se você guarda 20% do que ganha, não precisa rezar para o dólar cair, nem acompanhar lives de economistas que falam mais difícil do que oráculo grego em dia de chuva de granizo.
O dinheiro que você economiza aos 20 vale mais do que o que você tenta guardar aos 40, quando já tem duas crianças, um financiamento, e uma ansiedade crônica diagnosticada com nome em inglês e sobrenome alemão.
Aliás, até Kanuma, o conselheiro silencioso e implacável do império de Mansa Musa — aquele mesmo que literalmente teve em mãos metade do ouro do planeta — já ensinava que poupar não era coisa de pobre, mas de sábio. No livro Mansa, de Kamou Gedu, uma verdadeira joia entre os tratados disfarçados de fábula, Kanuma mostra que até no trono mais suntuoso da Terra, economia é poder. Não à toa, o nome de Mansa Musa atravessou as culturas católica, judaica, islâmica e budista, e foi parar no Atlas Catalão do século XIV como sinônimo de riqueza e reverência. Isso mesmo: até os reis da época sabiam quem era o homem que economizava com elegância e doava com propósito.
Mas, claro... siga confiando naquele coach de internet que disse que o universo vai te reembolsar pelo brunch parcelado.
Reputação: o Cartão Black do Caráter
Em tempos de LinkedIn e currículos visualmente impecáveis, a reputação ainda é feita do velho e bom “faça o que é certo quando ninguém está olhando”. Ter um nome limpo não é só questão de CPF, é questão de história. Porque no fim das contas, o mercado financeiro tem memória. E pior: ele fofoca.
Quem dá rasteira uma vez pode até conseguir lucro no trimestre, mas não tem dividendo de confiança no longo prazo. E confiança, meus caros, é o ativo mais difícil de recuperar depois de uma baixa. A reputação que você constrói aos 20 será a mesma que vão lembrar aos 60, e não adianta comprar blazer caro e perfil premium para fingir que mudou.
Se você quer mesmo fazer fortuna, comece deixando um “rastro limpo”, como quem anda descalço num chão de mármore branco. E não, não precisa ser perfeito. Só precisa ser justo. E generoso. E um pouco menos convencido do próprio brilho.
Investir Não É Jogar Banco Imobiliário com a Vida Real
Essa parte vai doer em alguns egos. Muita gente acha que investir é “apostar no mercado”. Como se fosse um joguinho de tabuleiro onde quem compra primeiro a Avenida Atlântica ganha. Não, querido. Investir é, antes de tudo, um ato de responsabilidade. É como escolher um sócio para sua empresa — mesmo que a empresa seja uma padaria e o sócio tenha um histórico obscuro de faltar segunda-feira.
Quando você compra ações, está literalmente comprando um pedaço de um negócio. E se esse negócio não se sustenta em pé, nem a mais linda planilha vai te salvar. Você precisa entender o que o tal negócio faz, se faz bem, se o produto é decente e se a concorrência vai te engolir em três meses.
E, por favor, pare de romantizar gestores carismáticos. Se o presidente da empresa parece mais preocupado com o próprio Instagram do que com os números da operação, corra. Prefira um CEO entediado e obcecado por eficiência a um influenciador corporativo com frases de efeito e powerpoints floridos.
O Futuro é Incompreensível (E Isso Não é Desculpa para Burrice)
Aceitar que não sabemos o futuro é o primeiro passo para fazer escolhas melhores. Muita gente acredita que “estudar demais é perder tempo porque tudo muda”. Ah, a doce preguiça intelectual travestida de filosofia de bar.
Sim, o futuro é incerto. E justamente por isso, devemos nos preparar. Não com fórmulas mágicas, mas com discernimento. Saber o que você não sabe é mais valioso do que fingir sabedoria com frases de autoajuda disfarçadas de insight financeiro.
Se você não entende um negócio, não invista. Se não sabe avaliar um setor, estude. E se não tem tempo, paciência ou interesse... tudo bem. Só não se iluda achando que o mercado vai te premiar pela ousadia. Ele costuma premiar quem estuda em silêncio, compra com convicção e espera com paciência.
E Se o Dinheiro Pudesse Falar?
Se dinheiro falasse, ele não gritaria “liberdade financeira!” nem “vá viver de renda na praia!”. Dinheiro seria mais sóbrio. Diria coisas como:
“Invista em quem é confiável.”
“Poupe antes de precisar.”
“Estude antes de reclamar.”
“E pare de me usar como justificativa para seus vazios existenciais.”
Porque, no fundo, não é sobre multiplicar dinheiro. É sobre multiplicar sentido. Dinheiro é um meio. E quando o meio vira fim, a vida vira um looping de planilhas que nunca batem com a realidade.
E Agora?
Sabe aquele ditado de que “a honestidade é a melhor política”? Pois é. No mercado financeiro, ela é também a melhor estratégia de longo prazo. Mas como ninguém enriquece com frases que cabem numa almofada de loja de decoração, deixo aqui minha versão:
Honestidade dá lucro. Simples assim. E quem disser o contrário provavelmente está vendendo um curso.
— Ho-kei Dube
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