Investir é Plantar na Chuva e Colher no Silêncio — Por que o lucro não avisa quando brota
Dizem que investir é como plantar: exige paciência, um pouco de fé e disposição para lidar com o clima — que, como o mercado, nunca consulta seu calendário antes de mudar de humor. Eu, pessoalmente, prefiro pensar que investir é como lidar com um vizinho excêntrico que insiste em lhe oferecer preços diários pela sua casa: na segunda, ele te oferece uma ninharia; na terça, quer pagar o dobro; na quarta, ignora você porque estava ocupado brigando com o cachorro. E você ali, firme, lembrando-se de que o valor da sua casa não muda porque ele acordou mal-humorado.
Foi observando histórias assim que aprendi a olhar para investimentos: não como figurinhas brilhantes de um álbum que se trocam no recreio, mas como algo mais prosaico — e mais sólido. O tipo de coisa que não exige consultas diárias ao oráculo do noticiário econômico, mas sim a capacidade de fazer perguntas simples e tolerar o silêncio das respostas.
Não se trata de ser especialista. Um casal que conheci, por exemplo, comprou um pequeno pedaço de terra na beira de uma estrada poeirenta que mal aparecia no mapa. Motivo? A terra produz, as pessoas comem, e fome é uma das poucas certezas que o mercado ainda não conseguiu transformar em NFT. Eles calcularam o rendimento possível, projetaram melhorias, e seguiram cuidando do ativo — sem se importar se, no noticiário, a moda do momento era quinoa orgânica ou proteína sintética.
Claro, houve períodos de baixa. Uma safra ruim, um preço medíocre. Mas também houve anos de fartura. E, em nenhum momento, eles correram para vender só porque o “mercado” acordou dizendo que o valor havia caído. Quando colhiam menos, ajustavam custos; quando colhiam mais, reinvestiam. Paciência, aqui, foi o adubo mais rentável.
Outro exemplo: um grupo de investidores decidiu comprar um centro comercial que parecia cenário de filme dos anos 80, esquecido na edição. Localização excelente, gestão patética. Fizeram contas, mapearam os contratos de aluguel e perceberam: boa parte estava congelada por acordos antigos e desvantajosos, mas prestes a vencer. Em poucos anos, conseguiram renegociar valores, reduzir vacância e transformar um elefante cansado em uma boa fonte de renda estável. Nada de genialidade visionária — apenas lógica, paciência e um ouvido surdo para o barulho do mercado.
O que esses dois casos têm em comum? A indiferença ao “placar” diário. Produtividade, não fofoca. Enquanto isso, vejo investidores agindo como jogadores de cassino, reagindo a cada variação como se fosse o apocalipse ou a redenção. Esquecem que jogos de verdade se ganham no campo, não olhando para o placar eletrônico.
A liquidez, essa maravilha que deveria ser aliada, muitas vezes se torna maldição. Porque se você pode vender a qualquer momento, a tentação de agir sem motivo real é irresistível. E aí, quando o vizinho excêntrico grita um preço absurdo, você entra no jogo dele. Compra caro, vende barato, e ainda agradece pela “oportunidade”.
Investir com calma é quase um ato de resistência. Não exige genialidade, mas sim o reconhecimento honesto dos próprios limites. Saber o que se entende — e o que não se entende. Evitar correr atrás do “próximo foguete” e aceitar que, às vezes, a melhor decisão é não fazer nada. O que é insuportável para quem acha que prosperidade se constrói com adrenalina.
E por falar em limites: todos juram respeitar o seu, até que ele atrapalha o roteiro alheio. Lembro de um investidor iniciante que, orgulhoso, mostrou-me sua “estratégia infalível” — uma mistura improvável de ações de alta volatilidade, renda fixa resgatável a qualquer momento e um pedaço em cripto que ele comprara “porque o primo disse que ia explodir”. Perguntei quanto tempo ele estava disposto a deixar o dinheiro quieto. Ele riu. “Ah, no máximo um mês… mas não quero arriscar muito, sabe?”
Foi nesse momento que entendi: não era uma estratégia, era um pedido disfarçado para que o universo lhe enviasse fortuna imediata, sem sustos, e com liquidez total — como se o mercado fosse um aplicativo de entrega, capaz de levar riqueza quente até a porta.
Voltemos ao tema. Se você não consegue estimar o rendimento futuro de um ativo, siga em frente. O mundo está cheio de possibilidades, e ninguém — absolutamente ninguém — tem a obrigação de ser onisciente. Mas se você baseia sua decisão apenas na expectativa de preço, está especulando. E não há nada de errado nisso, desde que saiba que está jogando e aceite perder sem chorar no ombro do Tesouro Direto.
O investidor que sobrevive é aquele que entende que más notícias, quedas temporárias e vizinhos histéricos não matam quem tem um ativo sólido nas mãos. Já a euforia, essa assassina elegante, é quem costuma puxar o gatilho. Desconfie quando todos estão sorrindo demais.
Clima de medo é amigo do investidor; mundo eufórico é inimigo. Conheço gente que nunca vendeu um ativo sólido em pânico, mas já deixou de comprar coisas que “todo mundo” queria — e dormiu muito bem com isso.
Para o investidor comum, a estratégia é simples: tenha um conjunto pouco diversificado de bons ativos e abandone a obsessão de encontrar “o grande vencedor”. Isso é tão raro quanto achar troco em barra de ouro na padaria. Com custos baixos, paciência e um pouco de frieza, é possível ter retornos decentes — e até melhores que os de muito profissional engravatado que não resiste à tentação da “movimentação estratégica” semanal.
E, para fechar: investir como se cuida de uma plantação é muito mais sensato do que tratar o mercado como reality show. A cana-de-açucar não cresce mais rápido porque você a observa com ansiedade. A colheita não melhora porque você debate previsão de safra na fila do café. Dinheiro, como lavoura, exige que se plante bem, cuide com método e colha no tempo certo. O resto é barulho. E barulho, no fim, é sempre da plateia — nunca do campo.
— Ho-kei Dube
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