Postagens

Mostrando postagens de maio, 2025

Executivos Ricos, Acionistas Pobres: A Trágica Ópera das Bolsas

Dizem que o mercado de ações é um teatro. Eu discordo: teatro tem roteiro. O mercado, meus caros, é mais próximo de uma ópera improvisada, com heróis, vilões e, claro, vítimas inocentes – quase sempre, investidores minoritários que compraram ingressos esperando um espetáculo sério e acabaram assistindo a uma tragicomédia. Compartilho três fábulas, nada edificantes, que me lembraram disso. É uma ficção, e como toda boa ficção parece real. Fiquem comigo, o veneno vem refinado. Primeiro Ato: O Pet do Controlador Comecemos com a fábula de um visionário e cofundador de uma grande rede varejista que se dizia pet-friendly, cujo Executivo-chefe — também conhecido como CEO — resolveu vender uma parcela expressiva de suas ações, alegando “necessidade de liquidez pessoal”. Ah, a liquidez… A justificativa clássica para um CEO colocar milhões no bolso e deixar investidores com aquela expressão de quem perdeu o cachorro – literalmente, neste caso hipotético. É claro que o controlador pode vender aç...

Dividendos cancelados: ou o dia em que o mercado financeiro descobriu que Papai Noel não existe

  Ah, os dividendos… esses doces e reluzentes presentes que investidores aguardam com ansiedade infantil. Não há nada mais sedutor do que abrir seu extrato bancário e ver cair ali aquela pequena recompensa, uma espécie de afago financeiro, como se o mercado dissesse: “Muito bem, você fez a lição de casa e merece um mimo”. Por isso, nada mais triste do que descobrir que aquele presente, anunciado com pompa e circunstância, simplesmente não virá. Sim, caro leitor, hoje falaremos desse drama: dividendos prometidos e cancelados. Um choque tão grande quanto descobrir, aos oito anos de idade, que Papai Noel é, na verdade, aquele seu tio barrigudo e suado vestido de vermelho. O maravilhoso mundo das promessas vazias Me lembrei de um fato marcante ao rever meu diário de investimentos  —  sim queridos, eu sou daquelas que tenho um diário, mas de investimentos, onde anoto minhas ordens de compra/venda, minhas decisões, meus sonhos e desilusões, afinal sou humana, mesmo sendo incriv...

Uma carteira de investimentos para cada situação? Só se for para cada crise existencial.

Ah, os investidores… essas almas inquietas, que vivem mais pelas manchetes do que pelos fundamentos. Nada como um bom susto global para incendiar o home broker: é conflito internacional? Vende-se tudo! É acordo de paz? Compra-se de volta! Um político venceu? Reposiciona-se a carteira! O outro venceu? Reposiciona-se de novo. Uma inflaçãozinha lá fora? Hedging total. Juros caindo aqui? Bora surfar a renda variável. Juros subindo? Foge para o CDI! Sério mesmo, minha cara leitora, meu caro leitor… será que faz sentido rodar (e rodopiar) tanto a carteira de investimentos assim? Trocar os ativos a cada manchete, como quem troca de roupa dependendo da previsão do tempo? Como alguém que perdeu a visão aos 44 anos — e, ironicamente, desde então, passou a enxergar mais do que muitos que se dizem “analistas” — preciso dizer: o verdadeiro risco não está no mercado. Está no pânico de quem acha que precisa de uma carteira para cada evento aleatório do mundo. O fetiche da carteira sob medida: uma ...

Ensino Superior? Nem tanto: entre torres de marfim e oficinas de sabedoria

Ah, o ensino “superior”. Poucas expressões carregam tanto verniz de prestígio e, ao mesmo tempo, escondem uma pátina grossa de contradição, desigualdade e — por que não? — pretensão. Sim, meus caros leitores e leitoras: hoje resolvi enfiar o dedo nessa ferida tão exposta quanto ignorada, mas sempre decorada com diplomas emoldurados e jargões em latim. Antes de prosseguir, um disclaimer: escrevo de um lugar onde a visão se perdeu, mas o olhar crítico se aguçou. E talvez exatamente por isso, já não me deslumbro mais com edifícios suntuosos, bibliotecas infindáveis ou títulos acadêmicos tão extensos quanto as dívidas que os acompanham. Para mim, a pergunta não é: “Você fez faculdade?”, mas sim: “O que você fez com aquilo que aprendeu — seja na universidade, na rua, ou na vida?” A superioridade fabricada O termo “ensino superior” sugere, sub-repticiamente, a existência de um ensino “inferior”, como se todo o saber não fosse, em última análise, uma ponte precária e provisória entre a ign...

Sua carteira de investimentos não é Tinder (Pare de deslizar o dedo!)

Dia desses, enquanto escutava um podcast — porque desde que fiquei cega aos 44 anos, meus ouvidos têm trabalhado dobrado — ouvi um guru financeiro que defendia, com fervor quase religioso, ajustar a carteira de investimentos a cada nova manchete ou tuíte presidencial. Ele parecia tão convicto, tão eloquente, que quase me convenceu a reorganizar minhas economias em função da próxima notícia bombástica sobre o preço do milho ou da variação de humor do líder político da vez. É verdade que perdi a visão há alguns anos, mas a minha capacidade crítica continua mais afiada do que faca de chef estrelado. E é com ela que venho aqui desconstruir essa ideia perversa e, por que não dizer, ridícula de ficar rodando carteira de investimentos como quem desliza no Tinder, escolhendo um pretendente financeiro novo a cada notícia sensacionalista. Vamos ser sinceros: você não pode basear seu futuro financeiro na notícia da manhã, na pesquisa eleitoral da tarde ou no meme da noite. Se sua carteira de inve...

Apostas Online: A Nova Cegueira Corporativa que Você Finge Não Ver

  Ah, as apostas online… O novo elixir do século XXI, capaz de transformar um funcionário exemplar em um zumbi dopaminérgico, que mal consegue distinguir entre o botão “apostar” e o “enviar relatório”. Não se engane, caro leitor: este texto não é sobre moralismos de rodapé nem sobre estatísticas frias. É sobre uma epidemia silenciosa que contamina mentes e planilhas com a mesma eficiência com que dissolve reservas financeiras. O fascínio é óbvio: a promessa de dinheiro fácil, rápido e, claro, sem esforço. Como resistir? Afinal, quem não quer ganhar uma bolada sem sair da cadeira giratória e ainda parecer produtivo durante o expediente? Se engana quem pensa que o vício em apostas é um problema do outro — do entregador, da balconista ou do pedreiro. Não. Ele está ali, ao seu lado, possivelmente naquela mesa enfeitada com post-its e o infalível copo térmico. Ou, quem sabe, no seu próprio bolso, disfarçado de aplicativo inofensivo. A neurologia já explicou: uma descarga rápida de dopam...

Fluxo de Caixa Não Mente. Quem Mente é Você (Ou o EBITDA)

Se você chegou até aqui esperando mais uma receita de “como detectar fraudes e enriquecer antes dos 30”, sinto informar: este post não é sobre ilusão, é sobre realidade — aquela senhora que, mesmo sendo chata, nunca falha. E a realidade, meu caro leitor, minha cara leitora, é esta: você não vai conseguir identificar uma fraude corporativa antes que ela exploda na sua cara . “Ah, mas e a análise fundamentalista?”, “E o gráfico tal?”… Não. Não e não. Sinto decepcionar sua esperança romântica de que é possível farejar maracutaias à distância, como se fosse um detetive de filme noir, com uma lupa na mão e uma dose de autoconfiança na outra. Fraude, meu bem, é justamente aquilo que você não vê — ou não quer ver . Fraude: o invisível com CNPJ O caso de uma varejista que atuava em todo o território nacional deixou muita gente de queixo caído. Alguns, de portfólio arrebentado. Outros, de moral encolhida. A pergunta mais repetida nos grupos de WhatsApp de investidores foi: “Como eu poderi...

Esqueça: Seu Investimento Não Vai Mudar Sua Vida (mas sua lucidez pode)

Adoro quando me pedem aquela fórmula infalível de “investimentos que podem mudar a vida”. Como se o dinheiro fosse uma entidade transcendente, que magicamente se multiplicasse só porque você apertou o botão certo na corretora e seguiu um finfluencer com voz de coach e sorriso de quem nunca errou. Pois bem: como uma mulher que ficou cega aos 44 anos e, desde então, passou a enxergar muito além do que o mercado gosta de mostrar, posso afirmar com convicção — não são os investimentos que vão mudar sua vida. É o hábito disciplinado de poupar. Isso mesmo, aquele gesto quase primitivo e absolutamente sem glamour de dizer “não” para o agora, e “ufa” para o amanhã. Mas quem quer falar disso? O que vende mesmo é o espetáculo: a rentabilidade meteórica, a narrativa da superação que termina com um influencer em Dubai, tomando um latte enquanto fala sobre "mindset milionário". A perda? Ah, essa é tratada como falha moral, como se fosse possível domesticar o risco com a força de vontad...

O Investidor Não Compra Dados — Compra Histórias (e Clichês Bem Embalados)

Quem leu meus primeiros posts já sabe: não sou economista, não sou contadora, não sou influenciadora . Também não sou uma iludida. E talvez, exatamente por isso, falo de finanças com mais lucidez do que muitos dos que se apresentam com os tais “certificados oficiais” pendurados na parede e o ego engomado com selos dourados de LinkedIn. O tema de hoje? Aquela velha farsa elegante — a crença de que tomamos decisões financeiras com base em informações objetivas, técnicas, racionais . Pois bem. Prepare seu café, ajeite sua poltrona e, se tiver algum produto financeiro recém-adquirido na carteira, sugiro deixá-lo do outro lado da sala — vai que este texto cause náuseas e você se sinta tentado a resgatá-lo só pelo impulso. Vamos lá: O investidor quer dados… mas compra narrativa A venda de investimentos, meus caros, não é sobre dados. Nunca foi. É sobre como esses dados são apresentados, ou melhor: como são encenados . As planilhas, as tabelas, os gráficos de pizza e aquelas linhas asce...

O Finfluencer Não É Seu Amigo: Como Não Deixar Que Seu Dinheiro Caia no Golpe do Afeto Financeiro

  Se você acha que quem não enxerga sou eu, preciso avisar: meu caro leitor, a cegueira mais perigosa é a sua — e, sim, estou falando daquela cegueira emocional, irracional e afetiva que transforma um ser humano sensato num cordeirinho do mercado financeiro, que segue seu finfluencer favorito como quem segue um pastor carismático no meio de um deserto de incertezas. Seja bem-vindo ao Dinheiro Que Me Veja , o blog onde quem não enxerga é o dinheiro, quem tem que acordar é você, e quem escreve sou eu: uma mulher cega que vê muito mais do que parece — especialmente quando o assunto é a falácia do investimento fácil e o mito do guru infalível. Hoje, meu tema é: como o afeto, a autoridade fabricada e a manipulação disfarçada criam a ilusão perfeita que alimenta as piores decisões financeiras. O (F)influencer e o investidor: uma história que se repete Você já percebeu como sempre tem aquele investidor que se diz bem informado, que fala bonito, que usa palavras como “hedge”, “beta”, “...

A Arte da Negociação (Ou Como Ensinar Estratégia com Uma Bengala, Um Café Frio e a Lógica Russa)

  O telefone tocou justo quando eu estava prestes a aproveitar meu último gole de café – aquele momento sagrado que, para qualquer professora universitária cega (e com senso de humor), equivale à iluminação mística. Atendi, claro, já prevendo o tipo de cilada revestida de gentileza que só alunos em apuros sabem entregar. — Professora, me desculpe por incomodar… é que estou montando meu TCC e pensei em fazer algo sobre a arte da negociação. Tipo assim… inspirada no Putin. Silêncio. Não o silêncio respeitoso. O silêncio de quem largou um sapo na sala e agora espera que a professora o acaricie. Respirei fundo. — Querido, você quer inspiração em Vladimir Putin? O homem que transforma uma ligação de paz em prévia de guerra? Aquele que acorda com cara de tratado e dorme com tanques na fronteira? Ele murmurou algo sobre “estratégias fortes” e “jogos de poder”, e eu, que além de cega sou teimosa, decidi que esse era o dia perfeito para ensinar negociação no estilo russo-nouveau — que ...