Uma carteira de investimentos para cada situação? Só se for para cada crise existencial.

Ah, os investidores… essas almas inquietas, que vivem mais pelas manchetes do que pelos fundamentos. Nada como um bom susto global para incendiar o home broker: é conflito internacional? Vende-se tudo! É acordo de paz? Compra-se de volta! Um político venceu? Reposiciona-se a carteira! O outro venceu? Reposiciona-se de novo. Uma inflaçãozinha lá fora? Hedging total. Juros caindo aqui? Bora surfar a renda variável. Juros subindo? Foge para o CDI!

Sério mesmo, minha cara leitora, meu caro leitor… será que faz sentido rodar (e rodopiar) tanto a carteira de investimentos assim? Trocar os ativos a cada manchete, como quem troca de roupa dependendo da previsão do tempo?

Como alguém que perdeu a visão aos 44 anos — e, ironicamente, desde então, passou a enxergar mais do que muitos que se dizem “analistas” — preciso dizer: o verdadeiro risco não está no mercado. Está no pânico de quem acha que precisa de uma carteira para cada evento aleatório do mundo.

O fetiche da carteira sob medida: uma ilusão vendável

Os acontecimentos recentes — sejam eles geopolíticos, econômicos ou midiáticos — desencadeiam o mesmo ritual coreografado: relatórios especiais, lives dramáticas, posts de LinkedIn com gráficos de barras e flechas vermelhas e, claro, as famigeradas recomendações:

“Monte agora sua carteira defensiva!”
“Prepare sua carteira para o novo governo!”
“Proteja-se da recessão iminente!”

Ora, ora… só faltou o “compre também o meu curso de finanças em 10 lições”.

Montar uma carteira a cada manchete é como mudar de país toda vez que o presidente solta um tweet polêmico. Ou como trocar o guarda-roupa inteiro porque a meteorologia previu uma frente fria. Não é apenas dispendioso: é emocionalmente exaustivo e financeiramente burro.

A síndrome da carteira camaleão

Vamos ser sinceros: você não precisa de uma carteira para a vitória do candidato X e outra para o candidato Y. Nem uma para o caso de os juros subirem e outra para quando eles caírem. Nem muito menos uma para cada sanção internacional ou para cada reunião do Fed.

Essa síndrome da carteira camaleão só serve a um propósito: movimentar o mercado para que todos os intermediários lucrem — menos você.

O assessor de investimentos adora, afinal, vive de comissionamento. A corretora celebra, pois enche os bolsos com taxas de corretagem. O governo recolhe seus impostos sobre cada operação. E você? Você paga. Paga taxas, impostos e, sobretudo, paga com sua paz.

Não é à toa que chamo esse comportamento de “investidor giratório”: sempre rodando, sempre tonto, sempre cansado.

O custo invisível da movimentação incessante

A movimentação frequente da carteira não só desgasta o seu emocional, mas também destrói, silenciosamente, o seu patrimônio.

Cada compra e venda vem acompanhada de um custo — explícito ou oculto. Há o custo direto da corretagem, o imposto sobre o ganho de capital (quando há), o spread entre o preço de compra e venda, e, claro, o custo de oportunidade: ao sair de um ativo para entrar em outro, você pode estar abrindo mão de dividendos ou de uma valorização potencial que não se repete.

E o mais perverso: tudo isso motivado, muitas vezes, por uma notícia que, passados dias ou semanas, já perdeu completamente o efeito.

A tragédia da previsão

Outro aspecto que me diverte — ou deveria dizer, me desespera? — é a crença de que alguém, em algum escritório envidraçado, saiba prever os impactos de eventos complexos e multifatoriais sobre os mercados.

Como se o mercado fosse uma equação simples e linear: estoura uma guerra, a ação X cai, a ação Y sobe. Não, meu bem, não funciona assim.

Os efeitos de eventos como uma guerra, uma eleição ou uma pandemia são difusos, de longo prazo e, muitas vezes, paradoxais.

Quer um exemplo? A commodity sobe com o conflito? Sim. Mas e se, ao mesmo tempo, uma recessão global despencar a demanda? E se um acordo de paz repentino transformar sua “carteira defensiva” em um amontoado de ativos superprecificados?

Parafraseando a mim mesma: o mercado é como um rio turvo — quem acha que enxerga o fundo, na verdade, só vê o próprio reflexo distorcido.

O argumento supremo da duração

E por falar em reflexos distorcidos, quem monta carteiras baseadas na manchete do dia presume — consciente ou inconscientemente — que aquele evento vai durar exatamente o tempo que ele imagina.

A guerra dura quanto? Se durar uma semana, você vende e recompra? Se durar um ano, você vai segurar firme?

E a eleição? Você vai mudar a carteira a cada pesquisa eleitoral? E depois, no segundo turno, muda de novo?

Essa dança frenética não é estratégia, é coreografia de quem não tem convicção.

O que ninguém te diz: sua carteira já deveria ser defensiva

A verdadeira carteira defensiva não é aquela que você monta após a manchete. É aquela que você monta antes — e que segura firme, aconteça o que acontecer.

E como se faz isso?

Simples: selecionando empresas líderes, que atuam em setores perenes, resilientes, que já atravessaram crises, recessões, trocas de governo e até pandemias, saindo não apenas vivas, mas mais fortes.

Sabe aquele acrônimo que você já conhece, mas agora com a minha assinatura provocativa?

BEST’S ME: Bancos, Energia, Seguros, Telecom, Saneamento e Materiais Essenciais.

Ou, se preferir, um lembrete afetivo: “a melhor sou eu”, porque sim, minha carteira é construída com lucidez, não com medo.

Esses setores* são o esteio da economia, não a espuma das notícias.

A arrogância de achar que pode vencer o caos

Quando você monta carteiras baseadas em manchetes, está partindo de uma premissa ingênua: que o caos pode ser domado.

Mas o caos — esse velho conhecido meu — não se deixa domar. Ele apenas se reinventa.

A cada crise, surgem novas variáveis, novos atores, novas consequências. O investidor maduro não tenta prever o caos. Ele se prepara para coexistir com ele.

Pare de correr atrás da próxima carteira

Você não precisa de uma carteira para a guerra, outra para a paz, outra para a eleição do A, outra para a vitória do B, outra para a recessão, outra para a euforia…

Você precisa de uma única carteira: sólida, resiliente, diversificada, pensada para o longo prazo.

E precisa de algo ainda mais raro: disciplina.

Sim, aquela virtude tediosa que não rende likes, nem views, nem convites para palestrar em eventos de “mentoria financeira”.

A farsa das carteiras oportunistas

As carteiras oportunistas são exatamente isso: oportunistas.
São vendidas a cada crise como se fossem o bilhete premiado da proteção, mas na prática são apenas o álibi elegante para que se gere mais movimentação, mais corretagem, mais taxas.

E para que você, investidor giratório, continue preso no carrossel emocional do mercado.

A ironia final: quem se protege demais, se expõe

O investidor que tenta se proteger de tudo, no fim das contas, se expõe a tudo: ao custo, à ansiedade, ao erro e — o pior — à desilusão.

Proteção demais é, paradoxalmente, o caminho mais seguro para o fracasso.

O mercado não é feito para quem quer certezas, mas para quem sabe conviver com incertezas.

E é justamente por isso que minha carteira não muda a cada manchete.

Ela muda quando eu mudo. Quando meus objetivos mudam.

Não quando o noticiário decide entrar em estado de histeria.

Conclusão: seja a âncora, não a vela

Se eu puder te deixar com uma imagem: seja a âncora, não a vela.

A vela vai para onde o vento sopra.
A âncora segura firme, ainda que o mar esteja revolto.

A sua carteira deve ser essa âncora: segura, sólida, silenciosa.

O resto… é espuma.

Como sempre digo: o dinheiro pode até ser cego…

Mas quem não pode ser somos nós.

Bons investimentos — ou, ao menos, boas decisões.

— Ho-kei Dube


*Se quiserem saber mais sobre minha abordagem 'A Melhor Sou Eu!' basta lerem os posts que encontrarão mais detalhes do acrônimo BEST'S ME

Comentários

  1. Adorei o BEST’S ME: Bancos, Energia, Seguros, Telecom, Saneamento e Materiais Essenciais! Melhor que só o BESST. É o que tenho na carteira!

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