O Finfluencer Não É Seu Amigo: Como Não Deixar Que Seu Dinheiro Caia no Golpe do Afeto Financeiro

 Se você acha que quem não enxerga sou eu, preciso avisar: meu caro leitor, a cegueira mais perigosa é a sua — e, sim, estou falando daquela cegueira emocional, irracional e afetiva que transforma um ser humano sensato num cordeirinho do mercado financeiro, que segue seu finfluencer favorito como quem segue um pastor carismático no meio de um deserto de incertezas.

Seja bem-vindo ao Dinheiro Que Me Veja, o blog onde quem não enxerga é o dinheiro, quem tem que acordar é você, e quem escreve sou eu: uma mulher cega que vê muito mais do que parece — especialmente quando o assunto é a falácia do investimento fácil e o mito do guru infalível.

Hoje, meu tema é: como o afeto, a autoridade fabricada e a manipulação disfarçada criam a ilusão perfeita que alimenta as piores decisões financeiras.

O (F)influencer e o investidor: uma história que se repete

Você já percebeu como sempre tem aquele investidor que se diz bem informado, que fala bonito, que usa palavras como “hedge”, “beta”, “duration”, mas que, no fundo, toma decisões como quem escolhe sobremesa: vai pelo que parece mais gostoso?

Pois bem, esse é o típico investidor que se agarra ao finfluencer da vez — aquele que se veste bem, fala com autoridade, grava vídeos com iluminação de youtuber profissional e, claro, promete “a oportunidade da sua vida”.

E como resistir?

Afinal, o finfluencer é convincente. Ele é o equivalente financeiro do influencer fitness: “Olha só, eu consegui, você também consegue… basta fazer o que eu mando!”

Só que, no mercado, os músculos são invisíveis e o colágeno é a sua reserva financeira evaporando.

E o investidor médio… acredita.
Concentra investimentos.
Abandona a diversificação.
Ignora os riscos.
E quando dá tudo errado — e quase sempre dá — vem aquela frase:

“Ah, mas se não fosse a crise, a política, o câmbio, Mercúrio com ascendência em Áries influenciando o 'sell side' do mercado… teria dado certo!”

Claro.

A negação é o primeiro estágio da falência emocional.

Se a cegueira afetiva tivesse cotação, muita gente já teria feito IPO.

A autoridade que emula afeto: o truque mais velho do mercado

A pergunta óbvia: por que confiar tanto num estranho?

Resposta: pelo mesmo motivo que você confia no motoboy que diz “pode deixar, tia, que o troco vem certo” — porque ele transmite segurança, experiência e — vejam bem — afeto.

Sim, afeto.

O finfluencer parece um amigo.
Ele se expõe.
Compartilha vitórias e derrotas (essas bem discretamente, claro).
Faz você sentir que ele quer o seu bem.

E você acredita.

“Ah, ele não faria isso se não fosse para me ajudar…”

Claro que não. Ele quer sua ajuda também: likes, views, monetização, autoridade.

Porque, meu bem, tempo é dinheiro. Sempre foi, sempre será.

E quanto mais ele fala que está “preocupado com você”, mais você acredita.

Esse é o ponto que mais me fascina: como a autoridade se confunde com o afeto.

Quando alguém se expõe, parece humano, compartilha histórias de sucesso e derrota, cria-se o vínculo afetivo.

Você começa a ver aquela pessoa como alguém que quer o seu bem, alguém que sabe mais do que você e que, gentilmente, compartilha esse saber.

Só que… não.

Ele compartilha o que rende. Geralmente para ele.

O golpe está no enquadramento

Sabe quando o restaurante coloca no cardápio uma água de R$ 16,00 só pra te convencer que o refrigerante de R$ 14,00 está barato?

No mercado financeiro é igual.

O finfluencer cria uma lista: ações maravilhosas, oportunidades de ouro, todas melhores que as piores do mercado (que ele mesmo escolhe para parecer que são muito ruins).

E você compara só com aquilo.

Ele não te mostra o risco, a volatilidade, a compatibilidade com sua carteira, seu perfil, seus boletos.

Só exibe a cenoura dourada:

“Veja como isso aqui rendeu 50% nos últimos 6 meses!”

E você, feito burro que sou eu quando esqueço onde deixei a bengala, corre atrás sem perceber que a estrada é um precipício com vista para o fundo do poço.

Estudo e Diversificação: o antídoto que ninguém quer tomar

A solução? Óbvia. Mas ninguém gosta.

É igual exercício físico: todo mundo sabe que precisa, mas ninguém quer fazer.

Estudo e Diversificação.

Não, não é comprar 15 ações do mesmo setor, ou cinco fundos imobiliários que investem todos em shoppings decadentes enquanto faz um curso online de Nado Sincronizado, mas sem a piscina e sem a parceira de coreografia...

É estudar sobre onde investir seu suado dinheiro e montar um portfólio que suporte o sobe e desce do mercado — e, acredite, ele sobe e desce mais do que aquele elevador de shopping em manutenção.

A única coisa que importa na sua vida financeira não são os ativos isolados, mas a remuneração, a rentabilidade e o risco do portfólio como um todo.

Você não casa com uma ação.

Você faz uma carteira.

Até porque monogamia no mercado financeiro é uma escolha péssima.

Você aguenta perder?

E tem mais: risco é relativo.

Alguns convivem bem com a volatilidade. Outros entram em pânico se o Wi-Fi cai.

Se você não pode conviver com perdas ou, pior, não pode pagar suas contas se perder, então, por favor, mantenha-se longe desse cassino.

Não arrisque o que não pode perder, nem entre num investimento que exige manter por cinco anos se sua geladeira só vai durar mais três meses.

O mercado é paciente.
Mas sua fatura do cartão não é.

Como escapar dessa armadilha?

Primeiro: não compre o que não entende.

Simples, direto, eficaz.

Segundo: não confunda autoridade com afeto.

O finfluencer quer o bem dele.

Se o seu bem for consequência, ótimo.
Se não for… paciência.

Terceiro: busque opiniões divergentes.

Ouça o guru. Mas ouça também o anticristo dele.

Leia análises contrárias, compare, pondere.

Se você não consegue fazer isso, se só quer ouvir quem confirma o que você já pensa, então melhor colocar seu dinheiro no CDI, sentar, respirar fundo e parar de bancar o rebelde financeiro.

Aliás, quer uma verdade incômoda?

A pior perda não é a financeira.

A pior perda é aquela que você não consegue explicar nem entender.

Quando você vê sua conta despencar e não sabe por quê, quando se pergunta “o que eu estava pensando?” e só encontra o eco vazio de um vídeo no YouTube que já saiu do ar.

Esse tipo de perda machuca.

E, cá entre nós, nem terapia resolve.

A confiança é ótima. A desconfiança é necessária.

O segredo está aqui como meu avô já dizia: confiar desconfiando.

Sim, ouça as dicas. Mas analise.

Sim, respeite quem sabe mais. Mas não aceite tudo sem filtrar.

Sim, se inspire. Mas nunca terceirize a responsabilidade.

O seu dinheiro é cego.

Não vê risco, não vê oportunidade, não vê manipulação.

Quem precisa ver… é você.

E se tem alguém que sabe o que é ver além das aparências, sou eu — e agora, quem sabe, também é você.

Moral da história

O mercado financeiro é um espetáculo.

Uns sobem no palco com luz, maquiagem, frases de efeito e promessas irreais.

Outros aplaudem de pé, emocionados, enquanto vendem a alma e compram ações que nem sabem como funcionam.

E lá no fundo, na plateia silenciosa, está quem realmente ganha: o investidor que vê além do show, que lê as entrelinhas, que entende o jogo — e que, sobretudo, sabe que ninguém se importa mais com o seu dinheiro do que você mesmo.

Então, da próxima vez que ouvir aquela frase mágica:

“Essa é a oportunidade da sua vida!”

Respire fundo, sorria e pense:

“Talvez. Mas só se a minha vida for curta, meu juízo for pouco e minha carteira for rasa.”

Do contrário, querido dinheiro, que me veja… e que me obedeça.

Até o próximo post!

— A mulher que não enxerga, mas vê mais que o mercado inteiro.

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