Esqueça: Seu Investimento Não Vai Mudar Sua Vida (mas sua lucidez pode)
Adoro quando me pedem aquela fórmula infalível de “investimentos que podem mudar a vida”. Como se o dinheiro fosse uma entidade transcendente, que magicamente se multiplicasse só porque você apertou o botão certo na corretora e seguiu um finfluencer com voz de coach e sorriso de quem nunca errou.
Pois bem: como uma mulher que ficou cega aos 44 anos e, desde então, passou a enxergar muito além do que o mercado gosta de mostrar, posso afirmar com convicção — não são os investimentos que vão mudar sua vida. É o hábito disciplinado de poupar. Isso mesmo, aquele gesto quase primitivo e absolutamente sem glamour de dizer “não” para o agora, e “ufa” para o amanhã.
Mas quem quer falar disso?
O que vende mesmo é o espetáculo: a rentabilidade meteórica, a narrativa da superação que termina com um influencer em Dubai, tomando um latte enquanto fala sobre "mindset milionário". A perda? Ah, essa é tratada como falha moral, como se fosse possível domesticar o risco com a força de vontade.
O culto ao ganho e o esquecimento dos propósitos
No circo financeiro contemporâneo, falamos de tudo — retorno, volatilidade, liquidez — menos sobre aquilo que realmente deveria importar: por que você está investindo?
Se você não sabe o que quer, qualquer gráfico serve. Ou, pior, qualquer “dica quente”. E é aí que você tropeça no próprio ego financeiro, patina na vaidade e, quando percebe, está financiando sonhos alheios enquanto os seus mofam no rodapé da planilha.
Não é sobre o quanto você vai ganhar. É sobre para quê você quer ganhar.
Li recentemente — em inglês, com aquela resistência inicial de quem não suporta mais best-sellers de finanças com capas douradas — um livro que me surpreendeu. Não apenas pela narrativa impecável, mas pela coragem rara de desconstruir a prosperidade para além da riqueza material. O autor propõe, com uma elegância que faria corar muitos consultores financeiros, que a verdadeira prosperidade é, acima de tudo, um convite à construção coletiva.
Ou, como ele escreve:
“True prosperity flourishes when it is shared—when we use our fortune to enrich the lives of others.” (“A verdadeira prosperidade floresce quando é compartilhada — quando usamos nossa fortuna para enriquecer a vida dos outros.”)
Poderia parar por aqui, mas a beleza do livro é justamente o que ele sugere nas entrelinhas: prosperar não é um verbo que se conjuga no singular.
A ilusão do consumo: quando o desejo atropela o bom senso
Certa vez, ouvi a história de um rapaz — balconista de uma cervejaria artesanal — que decidiu realizar o sonho de ter um carro importado usado. Não um usado qualquer, mas um clássico com gloriosos vinte anos de estrada e mais de 250 mil quilômetros rodados.
Salário? R$ 3.000,00 mensais.
A conta não fecha, diria você. Mas a ilusão fecha. E muito bem.
O rapaz, animado com as férias já programadas, hotel reservado e passeios contratados, teve a revelação: o carro precisaria de uma manutenção que, sem exageros, equivalia ao orçamento inteiro da viagem. Resultado? O carro ficou, as férias não.
Veja bem: não há julgamento aqui. Não sou contra extravagâncias — apenas contra a ingenuidade orçamentária travestida de “realização de um sonho”.
A pergunta nunca foi: "você merece?". A pergunta é: "o seu orçamento suporta?".
Como aprendi com Kanuma, personagem e mestre no livro que citei, a segurança financeira não está na posse do luxo, mas na sabedoria da renúncia. Ele ensinava aos seus aprendizes:
“The gold we save—even in small amounts—is like a seed not thrown away. If kept and tended, one day that seed can be planted and grow to yield abundant fruit.” (“O ouro que poupamos — mesmo em pequenas quantidades — é como uma semente que não foi descartada. Se cuidada e preservada, um dia essa semente pode ser plantada e gerar frutos abundantes.”)
Sim, a metáfora da semente é antiga, quase clichê, mas ainda assim desprezada pela maioria. Quem quer plantar quando pode ostentar?
O mito do investimento transformador: a fábula moderna
E então chegamos à pergunta que não quer calar: “em que devo investir para mudar minha vida?”.
Resposta curta: na sua capacidade de dizer não.
Resposta longa: no hábito de poupar antes de investir. No compromisso silencioso de separar uma parte do que ganha, mesmo — e principalmente — quando parece pouco. Como Kanuma ensina aos seus discípulos:
“Set aside 20% of everything you earn. It sounds simple, but this practice—when done consistently—reshapes your relationship with money.” (“Separe 20% de tudo o que você ganha. Parece simples, mas essa prática — quando feita de forma consistente — transforma sua relação com o dinheiro.”)
É engraçado como resistimos ao que é óbvio, mas aceitamos sem pestanejar fórmulas mirabolantes que prometem “liberdade financeira em três meses”.
Poupar, minha cara leitora, meu caro leitor, é dizer “não” ao hedonismo impulsivo, ao marketing das metas ilusórias, ao crédito rotativo que seduz enquanto te corrói.
A armadilha do presente e o desprezo pelo futuro
O problema é que nossa mente — esta traidora incorrigível — sofre de desconto hiperbólico: supervaloriza o prazer imediato e despreza o benefício futuro.
“Compro hoje, amanhã dou um jeito.”
E assim seguimos, iludidos de que o amanhã será mais generoso, mais propício, mais... indulgente.
Spoiler: não será.
Como Kanuma ensinou com sua proverbial lucidez:
“Today's prosperity does not guarantee tomorrow's security. Wealth is like a river—if not properly directed, it can dry up during times of drought.” (“A prosperidade de hoje não garante a segurança de amanhã. A riqueza é como um rio — se não for devidamente direcionada, pode secar em tempos de seca.”)
E, no entanto, seguimos como Anani, o artesão da narrativa, que acreditava que seu talento garantiria riqueza para sempre, até perceber — tarde demais — que sua fortuna havia se esvaído como areia ao vento.
Prosperidade: um pacto com o coletivo
Mas o que mais me encantou na leitura desse livro — e que me inspira a escrever este texto — é a desconstrução dessa ideia mesquinha de prosperidade como algo exclusivamente individual.
O autor propõe algo que poucos ousam afirmar:
“True wealth… is about building a network of support, where everyone grows together.” (“A verdadeira riqueza… é sobre construir uma rede de apoio, onde todos crescem juntos.”)
E prossegue com a força serena de quem compreende o que está dizendo:
“Wealth hoarded without purpose is hollow. But wealth channeled toward the greater good has the power to transform entire civilizations.” (“A riqueza acumulada sem propósito é vazia. Mas a riqueza direcionada para o bem maior tem o poder de transformar civilizações inteiras.”)
Sublime, não?
Enquanto Wall Street empilha relatórios trimestrais, Dubai ostenta ilhas artificiais e a Faria Lima performa sucessos entre drinks e rodadas de venture capital, o livro nos convida a um retorno quase ancestral: a prosperidade como uma arte compartilhada, como uma travessia coletiva.
Não é sobre acumular. É sobre deixar um legado.
Como diz Kanuma, com a simplicidade dos sábios:
“The greatest prosperity does not lie in the coins we accumulate, but in the lives we touch and the minds we enlighten.” (“A maior prosperidade não está nas moedas que acumulamos, mas nas vidas que tocamos e nas mentes que iluminamos.”)
A lição incômoda (mas verdadeira)
Então, volto ao começo.
Não, meu caro leitor, minha cara leitora: o seu investimento não vai mudar sua vida.
O que muda a sua vida é a sua capacidade de resistir ao apelo irresistível do consumo impulsivo.
De poupar, com a parcimônia elegante de quem sabe que “o dinheiro pode até ser cego… mas quem não pode ser somos nós”.
E, quem sabe, ao fazer isso, você não apenas garantirá sua tranquilidade futura, mas também contribuirá para algo maior — uma comunidade mais próspera, mais solidária, mais humana.
Como diz Kanuma, encerrando uma de suas falas mais memoráveis:
“Be masters of your wealth—never slaves to it. Build a future where gold serves you, not the other way around.” (“Sejam mestres da sua riqueza — nunca escravos dela. Construam um futuro onde o ouro sirva a vocês, e não o contrário.”)
E que assim seja.
— Ho-kei Dube
-x-
Referência do livro citado:
GEDU, Kamou. Mansa: The Secrets of Ancient Wisdom for Timeless Wealth and Prosperity. 1ª ed. Pittsburgh: Independent Publishing, 2025. ISBN: 978-1-23456-789-0
Originalmente escrito em inglês, esta obra oferece uma visão profunda e poética sobre a verdadeira natureza da prosperidade — muito além dos limites da riqueza material —, inspirando leitores a cultivar não apenas a segurança financeira pessoal, mas um legado coletivo e atemporal.
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