Sua carteira de investimentos não é Tinder (Pare de deslizar o dedo!)

Dia desses, enquanto escutava um podcast — porque desde que fiquei cega aos 44 anos, meus ouvidos têm trabalhado dobrado — ouvi um guru financeiro que defendia, com fervor quase religioso, ajustar a carteira de investimentos a cada nova manchete ou tuíte presidencial. Ele parecia tão convicto, tão eloquente, que quase me convenceu a reorganizar minhas economias em função da próxima notícia bombástica sobre o preço do milho ou da variação de humor do líder político da vez.

É verdade que perdi a visão há alguns anos, mas a minha capacidade crítica continua mais afiada do que faca de chef estrelado. E é com ela que venho aqui desconstruir essa ideia perversa e, por que não dizer, ridícula de ficar rodando carteira de investimentos como quem desliza no Tinder, escolhendo um pretendente financeiro novo a cada notícia sensacionalista.

Vamos ser sinceros: você não pode basear seu futuro financeiro na notícia da manhã, na pesquisa eleitoral da tarde ou no meme da noite. Se sua carteira de investimentos muda mais do que a cotação do dólar, desculpe dizer, mas o seu problema não está no mercado — está no seu dedo nervoso e na sua ansiedade crônica.

Carteira de investimentos não é fast fashion

Se você troca de ações como troca de roupa da Zara, talvez seja hora de admitir que você não está investindo, está apenas passeando pelos corredores de uma grande loja financeira cheia de tentações coloridas. Acontece que finanças de verdade são muito menos glamourosas e, diga-se de passagem, muito menos divertidas.

Fazer uma carteira financeira sólida é como escolher um relacionamento estável: não é sempre empolgante, não gera adrenalina constante, mas é confortável, confiável e, acima de tudo, funcional. Você pode se sentir tentado a trocar tudo por aquela ação "sexy" do momento, mas lembre-se: ações sedutoras geralmente vêm com riscos dramáticos e uma péssima ressaca financeira.

Cenários políticos são os novos signos do mercado financeiro

Outro modismo quase obsceno é montar carteiras para cenários políticos específicos: uma carteira para vitória do candidato X, outra carteira para vitória do candidato Y. Francamente, isso está mais para astrologia econômica do que para uma análise séria.

Você realmente acha que uma economia inteira vai mudar radicalmente no minuto seguinte à divulgação dos resultados eleitorais? Que seus investimentos devem depender exclusivamente da variação do humor de uma nação que, por sinal, tem um histórico impecável em ser imprevisível?

Cá entre nós, investir com base em eleição é tão inteligente quanto escolher seu parceiro pelo signo: você pode até acertar eventualmente, mas geralmente será por sorte ou coincidência, não por competência.

A síndrome do FOMO financeiro

A obsessão por acompanhar cada movimento das ações, cada notícia, cada tweet, tem nome: FOMO — Fear of Missing Out, ou em bom português, o Medo de Ficar de Fora. Esse medo é o mesmo que faz você comprar roupas que não precisa em promoções-relâmpago ou adquirir três airfryers numa Black Friday.

Investidores que sofrem de FOMO financeiro estão constantemente girando sua carteira, pagando taxas, comissões e impostos como quem distribui balas num aniversário infantil. São os melhores amigos do seu assessor financeiro, das corretoras e do fisco, mas são inimigos mortais do próprio patrimônio.

Se você quer acumular riqueza, pare de acreditar que o mercado é uma festa VIP onde você precisa entrar antes da meia-noite. Na verdade, é mais parecido com uma biblioteca: o sucesso vem com silêncio, calma e paciência, não com música alta e frenesi constante.

A simplicidade chata, porém lucrativa

Deixe-me ser clara: investir bem é chato. Muito chato. Não dá assunto para roda de amigos, não gera stories bombásticos para o Instagram e certamente não fará de você o mais popular da sala. No entanto, é exatamente essa simplicidade maçante que faz a diferença entre investidores que dormem tranquilos e aqueles que têm mais oscilações emocionais do que gráfico de criptomoeda.

Montar uma carteira robusta não exige ser vidente, economista renomado ou o herdeiro secreto de Warren Buffett. Basta entender o básico: boas empresas, bons fundamentos, dividendos consistentes, e uma dose generosa de paciência.

Dividendos: o sonífero do investidor raiz

Existe uma beleza singular no ato de investir em dividendos. É como plantar uma árvore: você rega, cuida, deixa crescer e, eventualmente, colhe os frutos. Não é emocionante a cada instante, mas é profundamente satisfatório. Com dividendos consistentes, você não precisa se preocupar com oscilações do mercado, com crises políticas ou com a próxima manchete alarmista.

Se você consegue dormir, viajar e viver tranquilo sem precisar olhar para o Home Broker a cada cinco minutos, parabéns: você descobriu a verdadeira riqueza. A riqueza da serenidade.

Não invente moda (financeira)

Ao longo da minha jornada financeira, especialmente após ter perdido a visão, aprendi a valorizar profundamente a simplicidade. Nada me irrita mais do que pessoas que complicam o simples apenas para parecerem inteligentes ou sofisticadas. Investir não é sobre prever o futuro, mas sobre criar um presente suficientemente sólido que sobreviva a ele.

Você não precisa mudar sua carteira a cada novo susto geopolítico, a cada nova pesquisa eleitoral ou a cada oscilação brusca de mercado. Fazer isso é como tentar mudar a decoração da casa toda vez que o tempo muda. Uma loucura desnecessária e dispendiosa.

Conclusão irônica (porque ninguém é de ferro)

Se você chegou até aqui e ainda acha divertido montar uma carteira para cada nova manchete absurda, talvez seja melhor investir diretamente em calmantes, chás relaxantes ou sessões de terapia. Sai mais barato e, garanto, será mais produtivo para sua saúde financeira e mental.

Lembre-se: O dinheiro pode até ser cego... mas quem não pode ser somos nós.

— Ho-kei Dube

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Investidor Não Compra Dados — Compra Histórias (e Clichês Bem Embalados)

Uma carteira de investimentos para cada situação? Só se for para cada crise existencial.

O Finfluencer Não É Seu Amigo: Como Não Deixar Que Seu Dinheiro Caia no Golpe do Afeto Financeiro