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Mostrando postagens de outubro, 2025

O Passado Também É Volátil, Principalmente Quando Está Em PDF: Como o passado financeiro virou um PowerPoint com transtorno dissociativo?

Algumas pessoas mentem com a boca. Outras, com os dedos. E há aquelas que preferem mentir com uma planilha. São as mais perigosas: usam gráficos como álibis, retroprojeções como áureas santificadas e médias históricas como bengalas para justificar toda sorte de dogmas financeiros. Há quem diga que o passado é imutável. Essas almas puras, que provavelmente ainda acreditam em comunicados do RI como literatura honesta, esquecem que o passado é editável. E não só por governos autoritários ou por roteiristas de novela revisionista, mas por gestores, economistas, investidores — e até por você, leitor ou leitora, que já limpou o extrato para apresentar um histórico “menos caótico” à terapeuta ou ao cônjuge. Não se engane: o passado financeiro é uma colcha de retalhos reencapada a cada ciclo de mercado. É a arte do “não foi bem assim”, o balé da “reestruturação contábil”, o sarau da “mudança metodológica”. E quando os números não cooperam com a narrativa, trocam-se os números — ou trocam-se ...

A Tragédia de Ser Comparável: Quando a inveja se disfarça de inspiração e o feed vira régua de fracasso

  A Tragédia de Ser Comparável Comparar-se pode parecer um gesto ingênuo — um deslizamento leve da mente que, ao tropeçar no feed alheio, suspira: “eu também queria”. Mas não se engane. Comparar-se, hoje, é um ritual tóxico e industrializado, embutido na engrenagem da produtividade, da felicidade obrigatória e dos lucros de curto prazo. É o novo jejum intermitente da autoestima: você se priva de dignidade em ciclos de 24 horas, esperando que, em algum momento, seu valor de mercado reaja. A tragédia moderna não é não ser feliz. É parecer infeliz diante de um algoritmo que empilha sorrisos plastificados como se fossem dividendos ininterruptos de uma vida bem-sucedida. Você, que trabalha, respira, paga boletos e ainda sonha com uma aposentadoria honesta, passa a sentir que está falhando — porque alguém, em algum lugar, está construindo o próprio castelo com blocos de felicidade cor-de-rosa no LinkedIn. Mas não se engane: muitas das vezes os muros são de isopor. E o telhado, de ment...

Startup de Dia, Colônia Penal à Noite: Entre rooftops e metas inatingíveis, o mercado infantiliza, glamoriza e devora quem ainda acredita em propósito embalado a vácuo.

Não é que mentiram para você. Mentiram em cima de você . Com slogans, vídeos motivacionais, powerpoints com emojis e um RH vestido de unicórnio. Mentiram com aquela entonação doce dos comerciais de margarina vegana e com a convicção dos coachs que parecem saídos de uma peça infantil encenada dentro de um banco. Mentiram com a crueldade de quem sorri enquanto avalia metas inalcançáveis, e com a pressa de quem precisa te moldar em três meses para a próxima demissão humanizada. Você não fracassou. Você apenas acreditou. Acreditou que a felicidade corporativa existia, que o rooftop era o novo altar e que o crachá vinha com propósito embutido. Acreditou que o "espírito jovem" era um ativo negociável, e que sua autoestima de 23 anos sustentaria sozinha o peso do Excel, das metas e da cobrança disfarçada de cultura. É compreensível. Afinal, era tudo tão... fofo. Um escritório com bichos, um home office com aromaterapia, um time diverso que faz dancinhas. Até o plano de saúde era ...

Como Fazer Amor com a Bolsa em Queda (E Rir da Cara do Medo Enquanto Isso)

Vamos começar com um pequeno spoiler: o medo não é o vilão. A burrice precipitada é. O medo só aparece de terninho quando você começa a investir sem espinha dorsal — ou, pior, com base nos sussurros do vizinho que investe como quem joga War: com bravatas, sem estratégia, e gritando "ataque total!" para a carteira inteira, inclusive os CDBs. Agora que já rimos da desgraça alheia — e um pouco da nossa própria — vamos falar sobre a coisa mais sexy que um investidor pode ter: frieza emocional durante o apocalipse. Não me refiro ao tipo de frieza que ignora sentimentos, mas àquela que olha para a Bolsa sangrando como quem olha para o ex com roupa de academia no Instagram: dói, mas passa. A síndrome do “é diferente dessa vez” Repare que o medo da crise é tão fiel quanto a inflação no Brasil: sempre volta. Toda vez que a Bolsa cai, alguém surge com a ladainha: “Essa crise é diferente”. E é mesmo. Todas são diferentes — nos detalhes. Nos sentimentos que evocam? São rigorosamente i...

Pepitas Óbvias, Cálculos Desnecessários: A Elegância de Investir Sem Virar Escravo da Planilha

Confesse, caro leitor: você já abriu um relatório de investimentos e se sentiu num curso de estatística aplicada ao tédio? Linhas, colunas, gráficos, taxas de desconto, projeções até 2047 e um entusiasmo tecnocrático digno de quem acredita que o futuro é uma equação resolvível — desde que com a calculadora certa. Ou melhor, com a IA certa, o algoritmo certo, o Excel mais talentoso da sala. Pois bem: respire. Vamos abrir essa planilha e jogar um pouco de luz crítica sobre as fórmulas que prometem prever o imprevisível. Porque, veja, nem tudo que reluz é ouro — e muito menos se reluz em gráficos de pizza com fontes sans serif. Às vezes, o verdadeiro investimento brilhante é justamente aquele que não precisa de modelagem matemática para se sustentar. Ele grita. Ele cintila. Ele se impõe como pepita em rio raso. Mas a sofisticação do século XXI, veja só, virou a arte de ignorar o óbvio em nome do rebuscado. E aí, no lugar de minerar pepitas, estamos todos batendo cascalho — com IA, com da...

A Tragédia do Investidor Hesitante: por que “ser ou não ser” virou “comprar ou esperar” — e o mercado agradece a sua paralisia com juros compostos

“O resto é silêncio.” Mas antes disso, o mercado grita. Ele grita em leilões nervosos, em índices que cambaleiam como nobres traídos e em relatórios com cheiro de sangue seco. Grita através de analistas que mais parecem arautos de uma corte decadente, tentando vender dignidade com taxa de administração. Grita nas suas notificações bancárias, nas suas planilhas corrompidas, no saldo que implora para ser salvo — ou para ser esquecido. E então você hesita. Na dúvida entre agir ou observar, entre assumir o risco ou preservar a pose. E com isso, inaugura seu próprio monólogo. Não o shakespeariano, mas o financeiro. Mais uma variante do eterno dilema: ser ou não ser... investidor de verdade? Porque veja bem, os dilemas morais do teatro clássico se reinventaram. Hoje, entre uma TED e um PIX, você não precisa mais escolher entre a vingança e o silêncio. Só precisa decidir se vai aplicar no prefixado ou continuar assistindo às tragédias econômicas do país com a pipoca da inércia. O Prínc...

Qualidade Invisível: Como Farejar Oportunidades que o Mercado Ainda Não Vê

Você já sentiu aquela sensação estranha quando uma empresa “desinteressante” de repente dá sinais de vida? Aquela fagulha é o cheiro de pepita – não pó de ouro, mas algo bruto, grande e irresistível. Só que para encontrá-la é preciso saber farejar, não mirar em gráficos. Por que o qualitativo vale mais que o quantitativo Todo mundo ama números. Eles são frios, certos, seguros. Eles tranquilizam seu app bancário, mas raramente contam toda a história. Aquele indicador redondinho, que dispara se tudo der certo, pode estar ocultando decisões tolas por trás de uma fachada rentável. O que realmente faz um investimento valer é a cultura da empresa, a cabeça de quem a dirige e a clareza com que ela aloca recursos. Quando as lideranças mostram, nas entrelinhas, que não estão comprando ilusões, mas sim ativos reais – bem avaliados –, meu radar apita. Esse instinto não é superstição: é experiência concentrada no tato. Cena de mudança – e não é num terminal de TV Imagine uma companhia que sem...

A Glamourização do Cansaço e Outras Mentiras com Hora Marcada: Por que fingir pressa virou mais lucrativo do que investir bem — e mais viciante do que reclamar do chefe em looping eterno?

Não sei o que me espanta mais: a pressa ou o orgulho que a acompanha. A cada esquina — ou aplicativo — há alguém contando com satisfação mórbida quantas reuniões já sobreviveu no dia. Como se o número de compromissos fosse sinal de relevância existencial. Como se estar indisponível fosse um novo tipo de inteligência. A pressa virou capital simbólico. E o tempo, um imposto progressivo: quanto menos você tem, mais importante parece ser. Não por acaso, as pessoas mais ocupadas do planeta são aquelas que se orgulham disso em mensagens de voz com velocidade 2x. Curioso. Durante anos, achamos que o luxo seria ter tempo. Mas a vida corporativa — sempre ela — tratou de inverter essa lógica com o afinco de quem estica elástico até virar coleira. Hoje, quem aceita um convite de última hora é “desocupado”. Quem está disponível é “suspeito”. E quem diz “posso sim, vamos agora” vira alvo de desconfiança. Deve estar em decadência. Ou pior: deve ser pobre. Elogio ao cansaço como novo colar de pé...

A Bolsa é um Baile de Máscaras — e eu só danço com quem sabe o preço do vestido

Há dias em que o mercado financeiro parece mais um carnaval fora de época. Não aquele carnaval que se prepara durante o ano, com fantasias bordadas e coreografias ensaiadas. Não. É o carnaval improvisado, de quem vestiu o que tinha, pegou emprestado um tamborim e saiu gritando que o bloco é seu. E no meio dessa multidão, vejo investidores — e investidoras — disputando quem pula mais alto, como se a altura do salto fosse garantia de prêmio. O problema é que, no mercado, saltar mais alto não significa chegar mais longe. Às vezes, significa apenas torcer o tornozelo antes da música acabar. Eu já vi essa festa antes. Gente que compra porque “todo mundo está comprando”, gente que vende porque “todo mundo está vendendo” — como se a vida financeira fosse uma partida de dominó, e a queda de uma pedra fosse o argumento mais convincente do mundo. Mas se há algo que aprendi, principalmente depois que perdi a visão, é que as melhores oportunidades raramente se anunciam com confete e serpentina....