O Futuro É Um Lugar Superestimado onde a Previsibilidade é um Palavrão.
Sabe aquele tipo de pessoa que começa o dia tomando um suco verde batido com espirulina, faz day trade de emoções às 9h30 e, ao meio-dia, já está no LinkedIn garantindo que a “inteligência artificial vai mudar tudo”? Pois bem. Hoje, este texto é pra exatamente o oposto dessa turma. E, se você não entendeu, talvez precise mesmo dele.
Vamos falar de previsibilidade. Aquela palavrinha meio sem graça que os especialistas digitais fazem de tudo pra evitar, afinal, ela não rende clique, não vira corte de podcast, e — o mais imperdoável — não dá pra usar junto com “disrupção” na mesma frase. Mas previsibilidade, meu bem, é o nome que o dinheiro dá para a paz de espírito.
Porque enquanto você se distrai tentando entender o metaverso ou se pergunta se a sua geladeira vai começar a comprar manteiga sozinha pela blockchain, tem gente enriquecendo com chocolate, sofá e barbeador. Sim, barbeador. A lâmina, não a startup. E esse é o ponto.
A Ilusão da Mudança Como Virtude
Vivemos numa era em que tudo precisa mudar o tempo inteiro — de preferência, sem propósito, sem freio e com muitos gráficos em movimento. A Bolsa? Volátil. O algoritmo? Imprevisível. As tendências? Fluídas. O investidor comum, então, acaba vítima da síndrome de FOMO crônico: o medo de ficar de fora. Ficar de fora de quê, exatamente? De perder dinheiro mais rápido que os outros?
Essa lógica da mudança permanente é vendida como sinal de inteligência e ousadia. Mas sejamos sinceras: há algo mais burro do que se apaixonar por aquilo que você mal consegue entender? Amar o risco é fácil quando se tem uma planilha emocional terceirizada. O difícil é amar a calma. E ela não tem assessoria de imprensa.
Castelos, Fossos e Gomas de Mascar
Houve uma época em que investir significava só isso: comprar um pedaço de um bom negócio. Algo que você compreendia. Algo que você podia explicar pra sua avó sem usar PowerPoint. Hoje, parece que se você não está comprando ações de uma empresa que promete reinventar o conceito de gravidade através de nanossensores com DNA de baleia beluga, você está “perdendo o bonde”.
Pois eu sigo preferindo castelos com fossos. Sim, aqueles negócios chatos, estáveis, que vendem coisas que as pessoas consomem mesmo sem saber por quê. Pasta de dente, pipoca, cueca. Produtos que existiam antes do hype e provavelmente vão existir depois dele também.
Negócios assim não precisam de pitch. Eles precisam apenas sobreviver ao próximo comercial de sabão em pó. E sobreviver, em finanças, é o novo vencer.
O Drama de Não Saber o Futuro
Ah, o futuro. Essa entidade mitológica tão reverenciada por economistas quanto por astrólogos. A verdade inconveniente? A maioria dos investidores não faz ideia do que está comprando quando entra num IPO de “tecnologia disruptiva”, mas dizem que estão “apostando no longo prazo”.
Longo prazo em quê? Em uma história que nem a própria empresa entende?
Eu prefiro admitir com classe: não sei o futuro. E estou em paz com isso. Porque o que me interessa não é a previsão, é a permanência. Aquele pequeno império que consegue fazer a mesma coisa bem feita há vinte anos. Que tem cliente fiel, produto testado e concorrência com preguiça.
A propósito, esse é o tipo de empresa que alguns gênios chamam de “entediante”. Eu chamo de aposentadoria tranquila.
O Ego Quer Tecnologia, o Dinheiro Quer Estabilidade
Existe um fetiche social por parecer inteligente. E, infelizmente, dizer que investe em linhas de transmissão de energia não impressiona na mesa de bar da firma. Já falar em “robótica aplicada à nanotecnologia quântica em ambientes escaláveis com I.A.” parece que eleva o CPF à categoria de Nobel.
Mas vamos combinar? O dinheiro não tem ego. Ele não quer saber se você é ousado, inovador, disruptivo ou cool. Ele quer saber se, ao final do mês, você ainda vai estar de pé. O dinheiro é tímido, meio conservador e um pouco medroso. Ele dorme melhor em colchões estáveis do que em camas de pregos voláteis.
E se há algo que aprendi depois de perder a visão foi exatamente isso: nem tudo que brilha é insight. Às vezes é só reflexo de uma bolha.
O Valor das Coisas Que Não Mudam
Vamos fazer um exercício. Pense numa coisa que você faz igual há vinte anos. Pode ser escovar os dentes, passar café, reclamar do governo. O que essas atividades têm em comum? Elas permanecem. E onde há permanência, há base.
Os melhores negócios são assim. Eles não precisam se reinventar a cada semestre. Eles não exigem um rebranding para parecerem sustentáveis. Eles vendem o mesmo chiclete de sempre — e vendem bem.
Mas aí alguém levanta a mão e diz: “Mas Ho-Kei, e a inovação? O mundo muda!”. Sim, querido, o mundo muda. Mas ele muda muito mais devagar do que as apresentações de PowerPoint fazem parecer.
Não Entendeu? Não Compre
Tem uma regra que carrego como mantra: se não entendeu o que a empresa faz, não invista. E não falo de entender o produto — falo de entender o negócio. Como ele ganha dinheiro. Qual o risco. Quem é o cliente. O que pode dar errado.
Investir sem entender é como se apaixonar por alguém só porque fala bonito. No começo é até excitante. Depois, você acorda ao lado de um endividado emocional com vocabulário extenso e zero estabilidade. E aí não adianta reclamar: você se encantou com o som, não com o sentido.
A Sabedoria dos Velhos Ranzinzas
Senhores velhos, bilionários, que investem em doce e lâmina de barbear. Parece piada, mas é estratégia. Eles não tentam prever o futuro, eles escolhem empresas que não precisam deles para continuar funcionando.
“Mas eles perderam a alta das techs!” — gritam os defensores da juventude. Sim, perderam. E continuaram ricos. Porque perder uma moda não é problema. O problema é perder a cabeça tentando acompanhar todas.
Eu prefiro perder o foguete e ficar com a barra de chocolate. Me engorda um pouquinho, mas me dá mais lucidez.
Quer Segurança? Compre Previsibilidade
A estabilidade virou um palavrão. Dizem que quem busca segurança tem “mentalidade pobre”. Pois eu digo: quem busca só adrenalina tem mentalidade imprudente. Segurança não é ausência de risco. É consciência de onde se pisa.
E pisar em solo firme é uma escolha. Uma escolha que se faz todos os dias quando se diz “não” ao hype e “sim” ao arroz com feijão bem temperado. Porque, acredite, o mundo ainda é feito de gente que come, dorme, veste calça, paga a conta do cartão de crédito e escova os dentes. E essas necessidades não viram pó com o próximo update do sistema.
O Valor de Não Ser Gênio
Sabe o que mais admiro em investidores que sabem onde estão? A humildade. Admitir que não entende um setor é mais digno do que fingir genialidade com frases de efeito copiadas do X (ex-twitter). “Não sei” é uma estratégia. E das mais poderosas.
Eu, por exemplo, não entendo biotech, metaverso, nem criptomoeda com lastro em promessas. Mas entendo supermercado. Entendo minha conta de luz (apesar de nunca concordar com ela!). Entendo fila de padaria. E é aí que está o ouro.
Porque às vezes, a sabedoria está em não querer parecer esperto. Está em parecer sensata. E sensatez, hoje, é revolucionária.
Conclusão:
O futuro é sexy, o presente é funcional. E em tempos de ansiedade econômica, talvez o mais ousado seja exatamente o contrário do que estão te vendendo. Não compre o que não entende. Não invista no que não toca. E, principalmente, não troque previsibilidade por prestígio.
No final, o que salva sua conta bancária não é o foguete da moda. É o chiclete de sempre.
—Ho-kei Dube.
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