O Investidor com Ego de Cristal e Convicção de Gelatina (e outras lições que ninguém ensina no banco ou no banco de escola)
Se você ainda não ouviu falar do termo VUCA, talvez seja porque estava ocupado demais conferindo a oscilação do Ibovespa entre uma dancinha do TikTok e um golpe de coach no WhatsApp. Pois bem: VUCA é um acrônimo cunhado pelos militares norte-americanos para descrever a nova ordem mundial do pós-Guerra Fria. Significa Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity. Ou, em bom portugês da quebrada da vida: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.
Sim, parece que estamos vivendo uma distopia escrita por um estagiário da Matrix com tempo livre demais. A vida virou um jogo de tabuleiro com regras que mudam a cada lançamento de dado. E, nesse cenário, muita gente decide se jogar no universo dos investimentos como quem tenta nadar no mar com colete salva-vidas feito de promessas do Instagram.
Vamos com calma.
Antes de largar a faculdade para virar trader de fim de semana ou apostar no novo "unicórnio" da bolsa como se fosse um cupom de desconto da Shein, recomendo um olhar mais atento para uma galeria de figuras que, apesar de discretas e vestirem ternos mais gastos que nossa paciência em fila de banco, estão entre os grandes investidores da história. Gente como Luiz Barsi Filho, Lírio Parisotto e Luiz Alves Paes de Barros aqui no Brasil. E, no resto do planeta, nomes como Warren Buffett, Peter Lynch, Charlie Munger, Howard Marks, John Templeton, Philip Fisher, Ray Dalio, entre outros que você não encontra no camarote da Faria Lima, mas no rodapé das boas bibliotecas.
Sabe o que todos eles têm em comum? Uma estranha resistência a modismos e um espírito quase franciscano de observar, pensar, refletir e... esperar. Sim, esperar. Coisa rara numa geração viciada em notificacões.
Aliás, você sabia que existe uma nova geração de investidores que segue a mesma filosofia de valor, paciência e foco em dividendos? Eles têm rosto, nome, canal no YouTube e, veja só, conteúdo gratuito em abundância à disposição de quem quiser aprender. Estou falando de nomes como Louise Barsi e Fábio Baroni, que não apenas investem, mas ensinam, explicam, compartilham, repetem e ilustram.
Não é fácil. E talvez exatamente por isso funcione.
Mas você não precisa seguir nenhum deles cegamente (deixe isso comigo, por favor). Basta aprender com eles. O problema é que muitos querem a estratégia, mas não o processo. Querem o dividendo, mas não a disciplina. Querem ser ricos, mas só sabem usar a calculadora do celular para parcelar a última TV de 65 polegadas que cabia no limite do cartão.
A seguir, três lições de ouro que nenhum MBA de fachada vai te ensinar:
1. Administre o ego antes de tentar administrar uma carteira.
No mundo dos investimentos, o ego é um tipo de inflador de balão de festa: só serve para encher, até estourar. A ostentação, o "eu já sabia" e o prazer de postar gráficos verdes no feed são tentações constantes. Mas enquanto você tenta provar ao mundo que é um gênio do mercado, o mercado, com a elegância de um rinoceronte em salto alto, prova que humildade não é uma virtude opcional — é sobrevivência.
2. Não seja patrocinador da sua própria ruína.
A frase é feia, eu sei. Mas não mais feia que a conta bancária de quem gasta o dobro do que ganha para manter aparências dignas de influencer digital com patrocínio imaginário. Muitos investidores iniciantes entram na bolsa com a mesma mentalidade de quem entra num shopping em liquidação: querem comprar tudo que brilha, mesmo sem saber se serve. Resultado? Compram empresas como quem compra roupa sem experimentar: pode até ficar bonita no cabide, mas vai te apertar no meio do caminho.
3. Descubra o seu verdadeiro motivo antes de procurar um método.
Investir é uma prática. Mas o que sustenta a prática é o propósito. Não adianta seguir o plano de outro se você não sabe onde quer chegar. Muitos entram no mercado querendo "ficar ricos". Mas não sabem se isso significa liberdade, status, segurança ou vingança contra um ex que zombou de sua planilha.
Descubra o que você quer. E depois descubra o que é necessário abrir mão para alcançar isso. Spoiler: na maioria dos casos, não é o cafezinho. É o autoengano.
Ah, e uma dica importante que às vezes parece esquecida no fundo da gaveta: não largue os estudos para virar gênio do mercado. Provavelmente, você só vai trocar um diploma incompleto por uma coleção de prejuízos completos.
Felizmente, vivemos em uma era onde é possível aprender com os melhores sem pagar por um MBA com mais logos do que conteúdo. Basta disciplina e a humildade de quem sabe que educação financeira começa com educação, ponto.
Assista a aulas, leia livros, ouça quem já atravessou esse caminho com os pés descalços e calos verdadeiros. Não se iluda com especialistas de Instagram cujos maiores dividendos são likes comprados e publis camufladas.
Se você vai investir, invista primeiro em si mesmo. E não estou falando de mantra de almofada, mas de algo muito concreto: conhecimento, leitura, estudo e um pouco de silêncio para escutar o que o tempo tem a dizer.
Em um mundo VUCA, onde tudo muda o tempo todo em tempo real, talvez a maior revolução seja fazer o básico com uma elegância paciente. E o mais subversivo seja pensar no longo prazo sem perder o humor.
Eu, que perdi a visão aos 44, posso garantir: há clareza onde há coerência. Há riqueza onde há paciência. E há prosperidade onde há propósito.
Agora, se tudo isso parecer chato demais para você, não tem problema. Sempre há uma cripto nova, um day trade milagroso ou um guru com um curso em 6 módulos prometendo liberdade financeira até quinta-feira. Mas se você optar por esse caminho, ao menos não diga depois que não foi avisado.
Porque o dinheiro pode até ser cego. Mas quem não pode ser somos nós.
— Ho-kei Dube
Comentários
Postar um comentário