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Mostrando postagens de julho, 2025

A Ritmista da Bolsa: Como a Persistência Vence o Palpite

Era uma quinta-feira qualquer, dessas em que a inflação dança samba e o dólar faz malabares. Eu, como de costume, sentada no escuro — mas de olhos bem abertos, obrigada — ouvi mais um gênio das finanças declarando que a chave da riqueza era “comprar quando todo mundo estiver vendendo”. Claro, meu caro. E emagrecer é “só fechar a boca”. Obrigada por absolutamente nada. A verdade é que no grande circo da bolsa, onde palhaços vendem e gurus gritam “compre já!”, há uma estratégia antiga, discreta, mas absolutamente genial. Tão simples que beira o ofensivo. E justamente por isso, tão eficaz que o mercado tenta escondê-la sob camadas de jargões, siglas e gráficos com mais linhas do que um livro de Goethe. Chamo-a de a arte do ritmo . Outros chamam de aportes regulares . Há quem tente enobrecer com nomes em inglês — como se isso fizesse o conceito mais refinado, tipo trocar feijão por “legume de grão escuro e sabor terroso”. Mas vamos ao que importa: a tal da técnica consiste em comprar, c...

O Mercado Está Nu (e Alugando a Roupa)

Imagine um baile elegante. Todos os convivas em seus trajes mais refinados, taças erguidas, discursos inflamados sobre liberdade financeira, renda passiva e o caminho da prosperidade. Tudo parece impecável, até que uma senhora cega se aproxima do centro do salão, tateia o ambiente e solta, sem rodeios: — O mercado está nu. E a fantasia de muitos foi alugada. Pois é, meu bem. No salão lustroso da B3, muita gente anda dançando de salto alto num chão que escorrega mais que discurso de gestor em call de resultado. Vamos conversar sobre o glamouroso, mas escorregadio, universo do aluguel de ações. Sim, essa prática que faz os olhos brilharem de ganância e os bolsos tremelicarem de medo. De um lado, temos o investidor raiz que oferece suas ações para aluguel, buscando aquele extra no fim do mês — uma renda complementar que, se bem gerida, ajuda a adoçar os amargos da volatilidade. De outro, o tomador, que se embriaga na esperança de que o mercado caia e lhe presenteie com um lucro rápido. Um...

A Conversão dos Descrentes e o Evangelho dos Dividendos: Uma pregação que começa em silêncio

Sabe aquela empolgação infantil que toma conta de quem descobre algo maravilhoso, como se tivesse acabado de achar o botão de volume do universo? Pois bem, foi mais ou menos assim que reagi quando entendi o que eram dividendos. Não os de igreja — esses já me renderam muito arrependimento — mas os outros: os da bolsa, os do capital que se multiplica quietinho, mesmo quando você dorme de conchinha com a inflação. Achei que havia encontrado o Santo Graal do capitalismo. Quis anunciar ao mundo. Montar barraca em frente à padaria. Catequizar a tia que só confia no cofre do colchão. Mas aprendi — da forma mais elegante possível — que evangelizar investidores não convidados pode ser tão ineficaz quanto tentar ensinar álgebra no meio de um churrasco com pagode ao fundo. Porque, veja, o entusiasmo inicial é lindo. A gente compra ações como quem adota um pet raro. Escolhe nome, imagina futuro, apresenta para os amigos. E quando os primeiros dividendos pingam na conta, parece que o universo nos ...

Quando o Preço é Teto, Mas a Burrice é Chão

  Certa feita, ao escutar um desses mantras da sabedoria de bolso dos investidores raiz — algo como “preço importa!” —, imaginei imediatamente um adesivo colado no para-choque de um carro popular: “Se você pode ler isso, está muito perto... do prejuízo”. Porque, veja bem, o problema nunca foi o preço. O problema é o entusiasmo desavisado com ele, como se fosse um oráculo de LED piscando "compre-me!" na vitrine do apocalipse corporativo. Estamos falando aqui de um conceito tão subestimado quanto o bom senso em grupos de WhatsApp de investidores iniciantes: o tal do “preço teto”. Sim, essa entidade meio mística, meio matemática, que promete nos dizer quando uma ação está “barata”. Ou melhor, quando parece barata, como aquele brigadeiro de micro-ondas que custou 1,99 no supermercado: doce, sim. Razoável, talvez. Saudável? Nunca foi a proposta. Para os desavisados — e para os avisados também, porque nunca é demais —, preço teto é o valor máximo que você se permitiria pagar por...