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Mostrando postagens de julho, 2025

Quando o Mercado Não Te Quer… e Você Insiste Mesmo Assim

Há dores que se repetem com a constância de um boleto vencido. Uma delas é amar o mercado quando ele não te devolve nem um mísero beijo de dividendo. E, como toda relação tóxica, a gente continua insistindo. Não porque gosta de sofrer — embora alguns de nós tenham uma quedinha masoquista por gráficos vermelhos —, mas porque acredita, piamente, que o tempo, esse velho cínico, vai nos dar razão. O problema é que o tempo também tem ações preferenciais. E raramente são as suas. Enquanto a vizinha da esquerda vende PETR4 no topo e posta “fiz o pix do aluguel com lucro da semana” e o rapaz da academia aposta tudo em fundo cambial porque ouviu alguém sussurrar “Selic vai cair” no banheiro do coworking, você está lá. Esperando. Não a virada de chave. Esperando a chave, mesmo. Ou pelo menos uma fresta de janela que permita seguir comprando boas empresas antes que o preço suba e estrague sua festa de reaportes. Investir com paciência, hoje, é como escrever cartas de amor no século XXI. Parece...

Viver de Venda ou Viver de Renda? (A ilusão dos que se desfazem do patrimônio para pagar o cafezinho — e ainda chamam isso de estratégia.)

Imagine dois amigos que, por capricho do destino ou ironia das planilhas de Excel, chegaram aos sessenta anos com o mesmo valor investido: R$ 1 milhão. Não é pouca coisa. Não é fortuna hollywoodiana, mas também não é a merenda da escola pública. Um valor respeitável, digno de suspiros aliviados e algumas noites bem dormidas — dependendo, claro, do que se decide fazer com ele. O primeiro amigo, vamos chamá-lo de Agenor. O segundo, por falta de criatividade ou excesso de homenagem, chamemos de Augusto. Agenor, moderno, disruptivo e convencido de que os dividendos são coisa de aposentado amargurado e planilhas amareladas, decidiu viver vendendo um pedacinho de seu patrimônio todo mês. Afinal, dizia ele, com um sorriso branco de quem viu vídeos motivacionais demais: "Pra que dividendos se eu posso vender ativos? Dinheiro é dinheiro, minha cara. Fluxo é fluxo." Augusto, por sua vez, é o tipo de sujeito que encara planilhas como se fossem haicais. Acredita que dividendos são o suss...

Quando o Dinheiro Tropeça em Placas Solares e Não Pede Desculpas.

Imagine uma empresa elétrica sulista que, por décadas, bailou sozinha no salão das hidrelétricas, orgulhosa de sua herança líquida, com seus reservatórios cheios e dividendos transbordando. Uma matriarca dos rios. Até que a festa acabou — ou melhor, a água. A crise hídrica de 2021 não apenas secou os reservatórios; ela secou a paciência dos investidores e lavou a maquiagem de sustentabilidade que muita empresa ainda usava para sair bonita na foto. Foi o desfile dos despidos. Os que dependiam exclusivamente das águas foram expostos como apostadores compulsivos em um cassino climático que já não respeita previsibilidade. Uma dessas empresas, das mais tradicionais do setor, decidiu então reescrever sua própria história. Sem escândalo, sem performance. Apenas estratégia. E ousadia. Primeiro, criou uma nova estrutura societária — uma holding elegante, que permite diversificar suas dívidas, escapar de antigos compromissos restritivos e se abrir a novos parceiros. Um banco de primeiríssima li...

O Investidor Impaciente e a Valsa dos Dividendos que Ele Não Dança

Antes de você perguntar: não, este não é mais um texto sobre ganhar dinheiro deitado. Até porque, se fosse verdade, o Brasil seria uma Finlândia tropical, deitada eternamente em berço esplêndido, acumulando dividendos entre uma soneca e outra. Mas não é. É sobre outra coisa: o equívoco monumental de achar que investir é uma corrida de 100 metros rasos com cronômetro nas mãos e adrenalina na jugular. Eu sei, você quer ganhar. Rápido. Quer retorno sem dor, lucro sem rotina, riqueza sem sono leve. E, de preferência, com algum youtuber jurando que "agora vai". Mas eu venho aqui, sentada na minha lucidez cega, para dizer: não vai. Comecemos com uma obviedade incômoda: o dinheiro que você investe hoje não está com você. Está com o mercado. E o mercado, meu bem, não tem pena, não tem pressa e, muito menos, compromisso com sua ansiedade. Por isso, antes de sair perseguindo a "melhor taxa do momento" como quem persegue caminhão de mudança de amor antigo, respire. Não se inve...

Doses Homeopáticas de Liberdade

É curioso como a tal liberdade financeira vem sendo vendida com o mesmo entusiasmo de uma seita gourmet: sorria, você está a apenas seis passos de virar sócio de uma multinacional enquanto come arroz com ovo. A diferença? Essa seita não exige fé, só paciência — e aportes frequentes, de preferência antes do boleto da luz vencer. Mas vamos começar pelo começo. A tal da estratégia da independência financeira não precisa de um MBA, nem de um coach de polo aquático. Precisa de três coisas: parcimônia, persistência e um olhar clínico para não cair na tentação do “guru da semana”. Regra 1: Invista só o que não te fará falta na sexta-feira do mês que vem. Não adianta se emocionar com a ideia de ser acionista e depois parcelar o jantar no cartão de crédito. Liberdade financeira não combina com carne moída comprada em três vezes. A primeira lição é simples: não comprometa o que você precisa para viver hoje. Invista uma parte da sua renda que não vai te transformar em um meme ambulante de autossa...

O Investidor com Ego de Cristal e Convicção de Gelatina (e outras lições que ninguém ensina no banco ou no banco de escola)

Se você ainda não ouviu falar do termo VUCA, talvez seja porque estava ocupado demais conferindo a oscilação do Ibovespa entre uma dancinha do TikTok e um golpe de coach no WhatsApp. Pois bem: VUCA é um acrônimo cunhado pelos militares norte-americanos para descrever a nova ordem mundial do pós-Guerra Fria. Significa Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity. Ou, em bom portugês da quebrada da vida: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Sim, parece que estamos vivendo uma distopia escrita por um estagiário da Matrix com tempo livre demais. A vida virou um jogo de tabuleiro com regras que mudam a cada lançamento de dado. E, nesse cenário, muita gente decide se jogar no universo dos investimentos como quem tenta nadar no mar com colete salva-vidas feito de promessas do Instagram. Vamos com calma. Antes de largar a faculdade para virar trader de fim de semana ou apostar no novo "unicórnio" da bolsa como se fosse um cupom de desconto da Shein, recomendo um ol...

Investindo em Pessoas: Por Que a Excelência Humana Vale Mais que Mil Gráficos

Imagine que você é investidora ou investidor, elegante na postura, crítica no pensamento — e está diante de duas empresas: uma com planilhas reluzentes, margens perfeitas, projeções maravilhosas; outra com números discretos, mas com um time gestor digno de enredo épico. Qual delas merece seu dinheiro? A resposta não está no gráfico. Está na alma — ou, no caso empresarial, no caráter quem pilota a embarcação. 1. A História Invisível por Trás da Retrospectiva Você já notou como balanços fazem questão de exibir números crescentes como se fossem troféus numa prateleira? Longe de mim, comparar empresa com galeria de arte barata... mas não seria justo. O que vemos ali é o passado: finalizado. Mas o que você, investidor observador, precisa entender é o que está por vir. Esse futuro, meus caros, não cabe em tabela. O método é simples: avalie a capacidade de aprendizagem das pessoas por trás do negócio. Você prefere apostar em quem admite erros ou em quem escreve 'denialismo corporati...

A Prioridade que Não Dá Like (Por que investir com seriedade é mais urgente do que parece?)

  Era uma manhã insossa de quarta-feira quando um e-mail barulhento tentou me vender um curso sobre “Como investir com sabedoria milenar em apenas 7 minutos por dia (e mudar sua vida para sempre)”. Apaguei sem abrir. Não por ceticismo — que eu cultivo com gosto —, mas por respeito ao meu histórico de lesões causadas por promessas de atalhos. Invisto há anos. E, como não posso mais ver gráficos coloridos, meu portfólio é administrado à base de planilhas lidas por voz, relatórios monocromáticos e um apurado senso de cheiro para conversa fiada. O que descobri nesse percurso — entre dividendos sem glamour e boletos sem dó — é que investir não é um hobby sofisticado. É uma urgência. Uma prioridade. E, talvez, a única herança que você pode construir com os olhos fechados. Investir com seriedade é menos sobre planilhas e mais sobre postura. É saber que há um mundo inteiro ganhando em cima da sua distração — seja ela em forma de um Pix emocional, de uma viagem parcelada para provar que voc...

Investindo sem Botox! (ou: como parar de especular e começar a viver)

Na primeira vez que ouvi alguém dizer que queria "ficar rica com ações", a frase veio carregada de uma urgência hormonal típica de quem não sabia nem como calcular o próprio troco no supermercado. Era uma terça-feira qualquer, dessas em que o mercado financeiro amanhece bipolar e termina em crise existencial. E lá estava ela: jovem, ansiosa e seduzida pela promessa de transformar um app no celular em uma impressora de dinheiro. Corta para mim — cega aos 44, lúcida aos 47, e com uma paciência que faria inveja a monge tibetano. Eu não invisto porque quero ficar rica. Invisto porque não quero ser feita de trouxa. E entre um gráfico e outro, descobri que investir de verdade é mais parecido com envelhecer com dignidade do que com fazer day trade de autoestima. Se você está esperando a tal fórmula mágica, pare aqui. O que eu tenho para oferecer é outra coisa: uma filosofia de bolso. Uma forma de ver o dinheiro sem se ajoelhar para ele. Uma forma de ganhar dividendo sem perder digni...

Selic em Dois Dígitos enquanto Patrimônio se Arrasta: Testando Nossa Fé no "BEST’S ME"

Imagine a cena: a Selic está firmemente ancorada nos 15% ao ano, a Bolsa bateu 141 mil pontos em julho, mas os setores do BEST’S ME — Bancos, Energia, Seguros, Telecom, Saneamento e Materiais Essenciais — vivem dias de tédio ou até fraquejam. Todos imersos em uma história que soa familiar: “com juros altos não dá pra investir em Bolsa”. Será mesmo? Neste momento, nossa fé no investimento em boas empresas – daquelas com gestão honesta, foco no pequeno investidor e um histórico decente de pagamento de dividendos – é colocada em cheque. Vamos refletir sobre esse teste, com a elegância, sarcasmo e a chamada lucidez ácida do “Dinheiro Que Me Veja”. Selic a 15%: a ilusão da segurança Juros no patamar que não se via desde 2006. O Banco Central reinvestindo a Selic para controlar a inflação, enquanto quem está de olho no mercado de renda variável vê seu caixa rendendo mais sem apertar nenhum botão. Quem diria: a própria economia transformando o investidor de longo prazo em entusiasta da ren...

A Arte de Chegar Rápido a Lugar Nenhum (ou como a ansiedade financeira destrói o óbvio)

Era para ser só uma caminhada matinal — dessas que faço em pensamento, já que não posso ver, mas ainda posso muito bem imaginar. Imaginei então um parque, uma trilha, talvez até um banco sob uma figueira com folhas indecisas. E foi aí que ele apareceu. Minha guia e companhia me descreveu assim:  Um rapaz apressado, daqueles que acreditam que a velocidade é o próprio mérito. Usava um relógio com cara de startup e passos de quem está atrasado para a própria vida. Trazia na mão um aplicativo de investimentos. Na outra, um copo de café com espuma fake e autoconfiança real. Eu, do alto da minha cegueira, sorri. Já vi esse tipo antes — não com os olhos, mas com o bom senso. Esse texto não é sobre ele. É sobre todos que andam como ele. É sobre nós. Porque o mercado, meus caros, tem virado um enorme tobogã de promessas apressadas. Todo mundo quer chegar rápido, ganhar rápido, dobrar o patrimônio antes do almoço e vender o milagre no jantar. E quem ousa sugerir que talvez a estrada seja lon...

O dinheiro chora de raiva, mas finge que está rindo

Há um teatro secreto no mercado financeiro. Um palco invisível, onde os protagonistas não são os gráficos nem os balanços trimestrais, mas sim nossas carências maltratadas, nossos desejos mal resolvidos e, claro, aquela pontada de ansiedade disfarçada de racionalidade. Sim, caro leitor: o dinheiro não é racional. E nós? Muito menos. Nós apenas o vestimos com roupas de planilha para fingir que temos o controle da peça. Eu perdi a visão aos 44 anos. Mas perdi o medo de me olhar aos 45. E o que descobri? Que boa parte das minhas decisões financeiras não foi tomada com base em projeções, mas em aflições. Não era a planilha que gritava; era o vazio. E quanto mais a gente tenta silenciar a dor com dígitos, mais ela se converte em juros compostos de frustração. Faz sentido comprar ações de uma empresa só porque você gosta da cor do logotipo? Claro que não. Mas experimente negar que já escolheu uma marca pela embalagem. Ou um fundo de investimento porque o nome soava forte. Nós, os humanos, so...

O Mistério do Investidor Anônimo (e outras verdades inconvenientes sobre o ato de investir)

Era uma tarde de brisa seca e juízo frágil quando, vasculhando meus arquivos de voz e texto — meu substituto para cadernos e canetas desde que a cegueira me visitou aos 44 — reencontrei um trecho de uma entrevista antiga com, veja só, ninguém mais ninguém menos que “O Investidor Anônimo”. Não revelarei seu nome, tampouco sua cidade ou CPF. Mas posso descrever a elegância dos seus cabelos teimosamente grisalhos e as rugas singelas que se acumulam naqueles que viveram com mais sobriedade do que espetáculo. O tipo de sujeito que não precisa de holofote, nem avatar com paletó em tom pastel. A entrevista, singela na forma e devastadora no conteúdo, me atravessou como uma dessas verdades que você preferia ter esquecido. E por isso mesmo, decidi escrever. O Investidor Anônimo não tem canal, não faz dancinha, não vende curso com a palavra "liberdade" no título. Ele é o anti-herói do mercado: calmo, lento, e, como todo bom investidor, um tanto entediante. A seguir, compartilho algumas...

Investidor ou Especulador? (Por que o Brasil insiste em jogar Banco Imobiliário com dinheiro de verdade)

Dia desses, revisitando meus alfarrábios — sim, aqueles cadernos invisíveis onde anoto o que os olhos não veem, mas o juízo, e o computador com leitor de tela, registra —, deparei-me com uma entrevista icônica do octagenário Luiz Barsi. Texto antigo, sim, mas com mais atualidade que muita newsletter novinha em folha. E como toda sabedoria bem envelhecida, o conteúdo me provocou a revisitar perguntas que insistimos em não responder. Afinal, estamos investindo ou apenas jogando moedas para o alto? Vamos partir de um ponto pacífico — ou quase: o brasileiro médio não investe. Ele se arrisca, se emociona, se engana e, não raro, se lasca. Mas investir, com estratégia, paciência e visão de longo prazo? Ah, não, isso é para “os gringos”. Aqui, o sujeito compra ação como quem aposta no número da sorte na loteria da quermesse: com fé, camiseta da Seleção e aquele leve cheiro de churrasco queimado da véspera. Não é à toa que Luiz Barsi — esse senhor que já viu mais inflação do que muito economi...