O grande dinheiro está na espera… e na paciência Preguiça!

Certa vez, um grande investidor — desses que lançam frases que depois ganham as redes sociais em fontes cursivas sobre imagens de pores do sol — afirmou: “o grande dinheiro está na espera”. E, veja bem, eu concordo. Mas não como quem compartilha uma plaquinha motivacional ao lado da cafeteira. Concordo como quem já ficou anos, de olhos vendados (literalmente), acompanhando ações que pareciam mais pacientes que uma preguiça amazônica, aquela criatura tão parcimoniosa que leva uma semana para atravessar um galho.

Enquanto a maioria dos investidores reza para que o preço das ações suba mais rápido do que o arroz no supermercado, nós, os esquisitos da renda variável disciplinada, torcemos justamente pelo oposto: que as ações fiquem ali, rastejando, imóveis, na languidez estratégica, nos dando tempo para comprar mais e mais. Sim, somos como aqueles colecionadores obsessivos que não querem o último exemplar da edição rara, mas desejam todas as cópias possíveis.

Mas, veja, esse tipo de paciência não nasce do dia para a noite. É um músculo invisível que se fortalece com o tempo, com a dor, com a frustração, e — por que não dizer? — com aquele sentimento meio masoquista de quem aprecia ver o mercado zombar da sua calma olímpica. E quem não entendeu ainda que na bolsa o ganho é “devagar e então de repente”, segue acreditando que enriquecerá com aquele e-book de “como lucrar R$ 10 mil por mês com dividendos, começando do zero”.

Spoiler: não vai.

As quatro fases do aprendizado… ou como aprender a ser um investidor-preguiça

Permitam-me, então, conduzi-los pelas quatro inevitáveis fases do aprendizado, essas mesmas descritas brilhantemente num livro que andei revisitando recentemente, e que explicam por que investir é como atravessar uma floresta pendurado numa corda: lento, assustador, mas, no fim, elegantemente inevitável.

Fase 1: A Incompetência Inconsciente — “Não sei que não sei”

Aqui mora o perigo: aquele estágio em que você, querido leitor, acha que sabe tudo. Viu três vídeos no TikTok, comprou ações de uma empresa “que só sobe” e… parou aí. É como o turista que entra na mata achando que sabe fazer trilha só porque assistiu a “Into the Wild”. Acha que vai sair vivo — mas, surpresa, a onça está logo ali.

Neste momento, não sabe que não sabe e, portanto, erra feio. Compra ações de empresas que ouviu falar, sem sequer saber o que significa “valuation”, e depois culpa o mercado quando tudo dá errado. É o estágio do “investidor-meme”, que aposta na alta de uma ação como quem gira uma roleta no cassino e depois faz vídeo chorando no Instagram.

Fase 2: A Incompetência Consciente — “Sei que não sei”

Chega o choque de realidade: a onça ruge. Você descobre, com um susto, que existem balanços, múltiplos, dividend yields, payout ratios… Um vocabulário inteiro que não fazia parte do seu mundo de hashtags e que agora exige estudo. É como o momento em que o turista da floresta percebe que não trouxe bússola.

Aqui, você finalmente reconhece que não sabe. E, portanto, começa a estudar: planilhas, relatórios, livros. Talvez até chegue a esse blog (bem-vindo!). É o ponto de inflexão, quando a arrogância cede espaço para a curiosidade e o medo.

Fase 3: A Competência Consciente — “Sei que sei”

Agora você já sabe que precisa calcular preço teto, analisar payout, entender o histórico da empresa… Mas ainda precisa pensar conscientemente sobre cada passo, como o neoturista que agora sabe ler a bússola, mas ainda tropeça na raiz da árvore.

Os investimentos começam a fazer sentido, você já não cai na primeira dica quente de fórum aleatório e passa a montar sua carteira com algum critério. Mas, ainda assim, aquela insegurança bate: será que estou comprando caro? Será que devo vender? É o investidor que dirige o carro com as duas mãos no volante, cinto afivelado, ar-condicionado ligado… e medo do cruzamento.

Fase 4: A Competência Inconsciente — “Não sei o quanto sei”

Ah… o ápice. Aqui, você já atravessa a floresta sem nem perceber, como a preguiça que, de tão acostumada com a lentidão, transforma a morosidade em arte. O investidor olha para o balanço e sente que está barato. Calcula o preço teto mentalmente enquanto passa manteiga no pão ou abre um vinho.

É quando os números deixam de ser abstrações frias e se transformam em uma dança conhecida. Não há mais hesitação: a disciplina já é parte do seu metabolismo. E, assim como a preguiça jamais se apressa — mesmo que os galhos estalem num "crec", por vezes, amedrontador —, você já sabe que o tempo está a seu favor. Afinal, o grande dinheiro… está na espera.

A ilusão do atalho e a obsessão pelo “curso que resolve tudo”

Muitos ainda acreditam que existe um curso, um guru, um atalho… uma fórmula mágica para evitar essa longa travessia da floresta. Que tolice! Assim como ninguém aprende a nadar assistindo vídeo no YouTube, ninguém se torna investidor consistente copiando a carteira alheia.

“Ah, mas fulano comprou tal ação…”. Ótimo para ele. Não significa nada para você, se não souber por que, nem qual o preço teto, nem o contexto da empresa. Repetir sem entender é como comer uma fruta exótica na floresta sem saber se é venenosa.

E como bem destacou o livro que revisitei: o grande diferencial não é saber repetir fórmulas, mas internalizá-las a tal ponto que se tornam parte do seu próprio instinto.

A espera: não como penitência, mas como estratégia

Por isso, da próxima vez que olhar para sua ação que não sobe há meses, sorria com ironia: está tudo bem. Você está exatamente onde deveria estar. Tal como a preguiça, que sobreviveu milhões de anos sem pressa alguma, você também sobreviverá ao tempo, à ansiedade e às manchetes sensacionalistas.

O mercado não premia o apressado. Premia o paciente. O que espera o momento certo, que acumula posição sem alarde, que segue firme, mesmo quando todos ao redor gritam: “vende logo isso, está parado!”

Só que, veja… não está parado. Está maturando. Como a fruta mais doce que demora a amadurecer ou como o vinho que precisa do tempo para atingir o ponto ideal.

E então… em que fase você está?

Se ainda está na fase do “não sei que não sei”, parabéns: você tem todo o caminho pela frente. Se já está na do “sei que sei”, ótimo: só falta um pouco mais de estrada para que tudo se torne natural.

E se já está no ápice, na “não sei o quanto sei”… bem, provavelmente nem precisaria ter lido este post, mas leu assim mesmo, por puro deleite — ou para rir das metáforas, vai saber.

Referência brilhante

Por fim, deixo aqui, como quem oferece um gole de um destilado raro, a recomendação entusiasmada da leitura do provocante e inspirador “Inovação: Do Propósito à Felicidade — Jornada CLIPS: Cs TÃO LOKO!”, escrito pelos brilhantes mestres Júlio Francisco Blumetti Facó e Pérsio Alberto Mandel. Não é apenas um livro, é uma epifania encadernada, uma ode à ousadia e um mapa afetivo e intelectual para quem deseja transformar experiências em competências com pitadas generosas de loucura — no melhor sentido possível, claro.

Eles não apenas destrincham com maestria a famosa sequência dos quatro estágios de aprendizagem — aquela dança evolutiva que vai do "não sei que não sei" até o "não sei o quanto sei" — como também criam metáforas e ferramentas que são verdadeiros catalisadores para qualquer investidor raiz, desses que não ficam correndo atrás de modismos, mas que lapidam, com paciência, sua própria jornada de prosperidade, propósito e, por que não, felicidade.

Aliás, como não se encantar com os “Goles Estimuladores” espalhados ao longo da obra — pequenas provocações intelectuais que lembram o leitor de que uma boa jornada nunca é linear, mas, sim, feita de desvios, tropeços e, claro, brindes bem dados? Ou ainda, com a filosofia do “Boteco da Inovação”, esse espaço onde o “Você está louco!” é, na verdade, um selo de qualidade.

Portanto, para quem quer afiar sua competência intuitiva, refinar a arte de esperar (nos investimentos e na vida), ou simplesmente se deliciar com uma leitura que é, ao mesmo tempo, um sopro de genialidade e um convite à ação, esta obra é indispensável. Recomendo de olhos fechados — e com o coração aberto.

Ah! E se quiser saber mais, procure pela obra nas boas livrarias, na internet ou, quem sabe, pergunte ao próximo investidor sereno que cruzar seu caminho… chances altíssimas de ele já ter se inspirado nesse tratado revolucionário.

Agora, feche este post e vá comprar uma ação que você sabe que deve comprar — mas só se tiver coragem de esperar como a preguiça. Porque, aqui, quem precisa abrir os olhos… é o dinheiro, não você.

— Ho-kei Dube.

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