Felicidade em Lata, Prosperidade com Raiz: Como Sobreviver à Indústria da Alegria e Buscar a Sabedoria que Realmente Importa
Se você acha que felicidade é um direito inalienável, provavelmente já foi fisgado pelo marketing emocional da modernidade. Não se culpe. Somos todos vítimas — ou melhor, clientes — dessa indústria bilionária que nos vende a promessa de uma vida plena, embalada a vácuo e com data de validade. E aí entra em cena Manufacturing Happy Citizens — ou, traduzindo livremente, "Como Fabricar Cidadãos Contentinhos". Edgar Cabanas e Eva Illouz escancaram o que muitos fingem não ver: a felicidade virou commodity.
Sim, meus caros, felicidade agora é protocolo corporativo, diretriz governamental e mantra de autoajuda. Seja resiliente! Seja positivo! Administre suas emoções como quem administra um portfólio — diversifique, minimize perdas, maximize sorrisos. A psicanálise foi substituída pela consultoria motivacional; o divã, por podcasts sobre “como ser a sua melhor versão” em cinco passos rápidos, de preferência enquanto você pratica mindfulness entre reuniões.
Na contramão desse self-service emocional, onde o cliente sempre tem razão (ou pelo menos a obrigação de parecer feliz), surge, como um oásis no Saara, Mansa: The Secrets of Ancient Wisdom for Timeless Wealth and Prosperity.
Ah, Mansa! Um livro que, longe de oferecer um aplicativo de meditação ou um workshop de "ikigai", nos conduz por uma narrativa densa, sensual e histórica. Não vende felicidade. Ensina sobre prosperidade — e, atenção: são coisas muito diferentes.
Enquanto Cabanas e Illouz destrincham com rigor acadêmico e sarcasmo sutil como a psicologia positiva se tornou o braço emocional do neoliberalismo — moldando não só as nossas emoções, mas também o que significa ser um “bom cidadão” (spoiler: alguém que sorri mesmo na fila do desemprego) — Mansa convida à reflexão ancestral: riqueza não é fim, mas meio. Prosperidade não se resume ao saldo da conta, mas se estende aos laços humanos, ao legado e à sabedoria que atravessa gerações.
Kanuma, o conselheiro silencioso de Mansa Musa, não precisou de palestras motivacionais para entender que o verdadeiro valor da riqueza está em sua função social, não no brilho do ouro acumulado em cofres ou no sorriso forçado estampado em relatórios de “bem-estar organizacional”. Sua filosofia — tão atual quanto necessária — propõe que a riqueza deve ser semeada, cuidada com paciência e, sobretudo, compartilhada.
Eis aí o abismo entre os dois livros:
De um lado, Manufacturing Happy Citizens, uma crítica contundente ao fetiche contemporâneo da felicidade instrumentalizada. A obra desfaz, com precisão cirúrgica, o mito de que basta ser resiliente, otimista e autogerido para triunfar na vida. Mostra como o “cidadão feliz” é um produto da lógica neoliberal — um consumidor treinado para suportar a precariedade com um sorriso e investir mais em si mesmo do que o próprio mercado jamais investirá nele.
De outro, Mansa, um cântico elegante à prosperidade com raízes profundas. Um convite a desacelerar e aprender com os movimentos circulares e pacientes da natureza, do comércio transaariano e das caravanas que cruzavam desertos não para buscar o “sentido da vida”, mas para construir pontes, cidades, culturas.
Enquanto Cabanas e Illouz nos alertam sobre os riscos de uma felicidade compulsória, transformada em capital emocional e critério de cidadania, Kanuma — em sua serenidade de sábio africano — sugere: prosperidade não se busca como quem persegue a próxima tendência de bem-estar, mas como quem planta uma árvore sabendo que talvez nunca verá seus frutos.
E se a crítica sociológica de Manufacturing Happy Citizens é necessária para desmontar a engrenagem opressiva da “happycracia”, a proposta filosófico-pragmática de Mansa é essencial para quem quer construir algo mais do que um perfil motivacional no LinkedIn.
Ambos os livros, cada um a seu modo, expõem o império da autoajuda neoliberal: aquela que transforma emoções em mercadorias e, como alertam Cabanas e Illouz, transforma o sofrimento em um erro de cálculo pessoal, e não em um fenômeno social a ser combatido coletivamente.
Mas onde Manufacturing Happy Citizens nos deixa no desconforto (delicioso, diga-se) da crítica, Mansa oferece um mapa — ou melhor, uma bússola. Não para encontrar a felicidade, esse bem tão maleável quanto uma ação de empresa em IPO, mas para construir um legado de prosperidade que ultrapassa a fugacidade das emoções.
Em Mansa, não há fórmula de felicidade instantânea, mas há a disciplina, a paciência e a generosidade como vetores para uma vida plena. A diferença é sutil, mas definitiva: onde a indústria da felicidade quer te vender um workshop de final de semana para "ser feliz", Kanuma quer te ensinar que prosperidade é uma jornada intergeracional, uma obra de vida, e que requer muito mais do que autoajuda — requer caráter.
E cá entre nós: neste mundo de “emodities”, onde felicidade é mais um serviço de assinatura, não é reconfortante saber que ainda existem obras como Mansa que nos lembram que o verdadeiro ouro é a sabedoria partilhada?
Portanto, se me permite uma recomendação: leia Mansa. Não porque vai te deixar mais “feliz” — esse é o golpe do século —, mas porque pode te transformar num ser humano mais consciente, mais generoso e mais capaz de prosperar de maneira sustentável e digna.
E, se ainda assim você quiser “ser feliz”, recomendo: desligue o aplicativo de meditação, pare de contabilizar quantos minutos de gratidão praticou hoje e, quem sabe, comece plantando uma árvore. Ou lendo Mansa.
De uma forma ou de outra, a prosperidade não se encontra no fim de um arco-íris. Ela se constrói — com tempo, sabedoria e, claro, com aquele velho e bom senso crítico que, felizmente, nem a indústria da felicidade conseguiu domesticar.
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Recomendação final:
Leia Mansa: The Secrets of Ancient Wisdom for Timeless Wealth and Prosperity. Um livro que, ao contrário de tantos manuais contemporâneos de “como ser feliz”, não promete atalhos, mas oferece caminhos. Não vende felicidade, mas entrega algo infinitamente mais valioso: um legado de sabedoria milenar sobre como prosperar com dignidade, generosidade e visão estratégica.
Porque, como bem sabemos por aqui: quem precisa abrir os olhos é o dinheiro, não você.
—Ho-kei Dube
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