Esqueça os Gurus da Internet: Meu Avô do Tibet me Ensinou Mais sobre Dinheiro (sem jamais ter visto uma nota de cem)
Quando eu ainda conseguia enxergar fisicamente o mundo — antes da minha fase dos "enta" (quarenta anos), época em que perdi a visão mas ganhei algo ainda mais poderoso, a clareza mental — costumava observar meu avô materno, um homem fascinante, vindo lá do Tibet, com a calma dos monges e a sabedoria afiada dos filósofos. Ele era o tipo de pessoa que podia lhe dar uma aula de finanças sem sequer mencionar dinheiro. Aliás, acho que ele sequer sabia o que era um "CDI", mas compreendia muito bem o conceito de riqueza.
Lembro-me de tê-lo visto sentado pacientemente sob uma árvore centenária enquanto eu, aos oito anos, ainda via o dinheiro como aquelas notas coloridas capazes de trocar por doces ou um brinquedo novo — algo parecido com a mágica dos contos infantis. Foi em uma dessas tardes tranquilas, com o vento suave balançando as folhas, que ele me apresentou sete princípios fundamentais que carreguei comigo pela vida afora.
Hoje, quando vejo — ironia proposital — pais e mães aflitos tentando ensinar educação financeira aos filhos, percebo que talvez estejam começando pelo lado errado da equação. Não me leve a mal, é ótimo falar de juros compostos, ações, dividendos, mas se você não consegue ensinar princípios antes dos cifrões, então, sinto informar: está construindo castelos de areia na maré alta.
Mas, vamos lá, meu caro leitor, minha cara leitora, diretamente das memórias de uma infância iluminada por um velho sábio tibetano, aqui vão os sete princípios financeiros essenciais — devidamente adaptados e traduzidos para o português financeiro do século XXI:
1. O dinheiro é energia: use-o sabiamente.
Meu avô costumava dizer que o dinheiro era como a água que corria dos picos do Himalaia: essencial à vida, mas perigosa se mal utilizada. Em linguagem financeira, é simples: se você não souber administrá-lo, ele escapa pelos dedos. Não adianta ensinar a criança a contar moedas sem que antes entenda que cada uma delas é uma decisão e não apenas uma moeda.
2. Riqueza é liberdade, não ostentação.
Veja bem, não há nada de errado com um pouco de luxo. Mas o ponto aqui é o equilíbrio. Ostentar riqueza sem ter uma base sólida é como comprar uma Ferrari e não ter dinheiro para o combustível. Hoje em dia, com influencers mostrando jatinhos e bolsas milionárias como se fossem essenciais para respirar, talvez seja hora de lembrar aos pequenos (e grandes) que a verdadeira riqueza está na possibilidade de escolher livremente como viver, não em mostrar ao mundo como se vive.
3. Trabalho é sagrado; dinheiro é consequência.
Meu avô, que não sabia nada sobre IPOs ou startups, compreendia algo que muitos CEOs de hoje ainda não sacaram: trabalhe com excelência, paixão e comprometimento, e o dinheiro será consequência inevitável. Faça o inverso, e você viverá em constante busca, sem nunca alcançar satisfação.
4. Dinheiro rápido não existe, nem nas fábulas do Himalaia.
Se você ensinou seu filho que ganhar dinheiro é tão fácil quanto dar dois cliques no celular, prepare-se para sustentar esse jovem por muito tempo. A riqueza, dizia meu avô com paciência infinita, é fruto do tempo e do esforço constante. Não existe atalho, apenas disciplina e paciência.
5. Cada ação financeira tem uma reação emocional.
Meu avô talvez não tivesse ouvido falar em psicologia econômica, mas sabia perfeitamente que cada decisão financeira gera impactos emocionais poderosos. Gastar traz prazer imediato e, muitas vezes, remorso tardio. Ensine aos seus filhos que a serenidade financeira vem de escolhas conscientes, não impulsivas.
6. A maior riqueza está nas relações humanas.
Não importa quão grande seja a fortuna acumulada, dinheiro nenhum compra amizades sinceras ou amor verdadeiro. Você pode pagar um exército de assessores financeiros, mas jamais poderá adquirir respeito genuíno ou companheirismo autêntico. Invista primeiro em relacionamentos, o restante é complemento.
7. A sabedoria financeira não tem ponto final.
Aprender sobre dinheiro é uma jornada, não um destino. O verdadeiro sábio — e aqui lembro-me dos olhos tranquilos e penetrantes do meu avô — entende que sempre haverá algo novo para aprender. O mercado financeiro muda, as pessoas mudam, o mundo muda. Adaptar-se é parte do processo.
Ah, e talvez você se pergunte: por que diabos estou compartilhando tudo isso num blog sobre finanças, ao invés de falar sobre ETFs, ações ou criptomoedas? Porque eu descobri, muito tempo depois, que não foram as fórmulas financeiras ou as técnicas de investimento que garantiram minha tranquilidade financeira. Foi, sim, o fundamento moral que aprendi enquanto criança — aquele mesmo fundamento que muitos negligenciam hoje em troca da promessa vazia de dinheiro rápido e fácil.
Então, meu caro leitor, minha cara leitora, faça um favor aos seus filhos, sobrinhos, netos ou mesmo a você mesmo: antes de falar sobre dinheiro, fale sobre valores. Antes de ensinar a investir, ensine a pensar. Lembre-se que um portfólio previdenciário só será valioso se sustentado por pilares sólidos de princípios e caráter.
Meu avô materno do Tibet talvez nunca tenha sequer tocado numa nota de cem reais, mas me ensinou mais sobre finanças do que muitos gurus engravatados que pregam milagres no Instagram. Afinal, quem precisa abrir os olhos é o dinheiro, não eu.
— Ho-kei Dube
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