Crer para ver: como investir no Brasil sem perder a sanidade — ou o bom humor
Caros e caras que, como eu, insistem em não fugir do Brasil — esse país maravilhoso, vibrante e, claro, permanentemente à beira de um colapso… ou de um carnaval.
Antes que me acusem de qualquer pretensão messiânica ou de querer reeditar manifestos históricos, tranquilizo: não, não vim fazer uma “Carta ao Povo Brasileiro”. Não tenho tempo, nem paciência, tampouco gosto de redigir textos para acalmar ânimos — minha preferência é sempre por cutucar feridas, abrir reflexões e, quem sabe, provocar aquele sorriso meio cínico de quem sabe que o mundo não vai melhorar, mas a gente segue tentando.
E o tema, ah… o tema é eterno: como sobreviver, investir e prosperar num país onde a única certeza é a incerteza. O Brasil, meus caros, não é para amadores — e, ao contrário do que se imagina, também não é para otimistas ingênuos. É para realistas sarcásticos, para os resilientes que sabem que o caos é apenas o estado natural das coisas por aqui.
O Brasil: esse maravilhoso caos perene
Sim, estamos mais uma vez no meio de alguma turbulência — e não, não preciso citar qual. Escolha a sua: política, econômica, cambial, climática ou, simplesmente, existencial. O Brasil é essa entidade que flutua entre escândalos, reformas que não reformam nada, crises e mais crises, mas que, surpreendentemente… não acaba.
Há quem, diante disso, entregue os pontos. Gente que, cansada, decide abandonar a partida: “isso aqui não vai melhorar”. E eu entendo. Mas também afirmo: desistir do Brasil é a pior decisão que você pode tomar.
O país não é uma pessoa, tampouco um governo. O Brasil é maior do que os ciclos políticos, do que os modismos ideológicos e — perdoem-me os entusiastas da “nova política” — maior até do que os memes do momento.
Quando o mercado ensina mais sobre a vida do que a própria vida
Se há uma coisa que aprendi com o mercado — e veja, quem aprendeu foi alguém que perdeu a visão aos 44 anos, mas ganhou uma clareza que muita gente nunca terá — é que o futuro não se prevê; ele se constrói. Não temos competência para prever nem os próximos quatro dias, quem dirá os próximos quatro anos! E olha que eu conheço gente que não consegue nem prever o saldo da conta até o fim do mês.
Por isso, prefiro sempre me apegar a algo mais sólido do que as manchetes: os dados históricos, a resiliência comprovada, as evidências de que algumas coisas simplesmente resistem.
Sim, o Brasil é um ambiente hostil — mas também é fértil. E a história das grandes empresas que aqui nasceram e prosperaram é a melhor prova disso.
Sobreviver não basta — o Brasil é lugar de prosperar
Sim, prosperar. Não basta apenas sobreviver, como aquele coitado que passa a vida inteira com medo, escondendo-se atrás de aplicações conservadoras que mal superam a inflação, ou esperando “o momento certo” para investir — que, claro, nunca chega.
O Brasil é hostil, mas é aqui que algumas das maiores e melhores empresas nasceram, cresceram e continuam brilhando, apesar das moedas que se desfizeram, das crises que nos quebraram, dos escândalos que nos envergonharam.
Essas empresas — e seus controladores — já enfrentaram:
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Trocas de moedas mais frequentes do que trocas de ministros da Fazenda.
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Hiperinflação, confisco, calotes.
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Guerras, pandemias, greves intermináveis.
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Ataques especulativos, calotes na dívida externa, planos mirabolantes.
E, veja bem, sobreviveram. Aliás, mais do que isso: prosperaram.
Investiram, geraram empregos, pagaram tributos, distribuíram lucros e, o mais importante: permaneceram.
O investidor raiz sabe que o Brasil exige fé… mas não cega
A tentação do ceticismo é grande. Não nego. Mas o investidor raiz sabe que não se trata de ver para crer. É exatamente o contrário: é preciso crer para ver.
O Brasil nunca ofereceu segurança absoluta. E, cá entre nós, quem precisa disso para investir deveria se limitar à poupança… embora nem essa escape da mão invisível do governo de tempos em tempos.
Portanto, meu caro leitor, minha cara leitora: se espera certezas, vá jogar Sudoku. Aqui, o jogo é outro.
O Brasil é maior que seus políticos — e sua Bolsa, maior que seus humores
Eu poderia listar dezenas de nomes de famílias que continuam mantendo o grosso de seu patrimônio em empresas brasileiras. E não só mantendo: investindo, reinvestindo, acreditando.
Não farei isso porque não sou garota-propaganda de nenhuma delas. Mas afirmo: esses controladores, há gerações, permanecem firmes, porque sabem que o Brasil não é uma aposta de curto prazo. É uma escolha de vida.
E nós, pequenos investidores, “pequenos donos de grandes negócios”, também devemos ter essa consciência.
Não somos turistas nesse mercado; somos construtores.
O que você controla? Só aquilo que você faz
O momento é de incerteza? Sempre foi.
O futuro será melhor do que o passado? Não sei. Ninguém sabe.
Mas uma coisa é certa: a única variável que você pode controlar é o que você faz hoje.
Pode escolher paralisar-se de medo, vender tudo, buscar refúgio em moedas fortes e fundos do exterior, e passar o resto da vida lamentando o país que “poderia ter sido”. Ou pode escolher investir, seguir, trabalhar, construir.
E não me venha com o argumento de que “o Brasil não ajuda”. Ele nunca ajudou. E mesmo assim, alguns constroem impérios enquanto outros constroem desculpas.
O mercado de capitais como ferramenta de resistência e construção
Aqui, no nosso cantinho do blog, não cansamos de repetir: o mercado de capitais é, antes de tudo, uma ferramenta de transformação social.
É através dele que o capital encontra o trabalho, que as empresas encontram investidores e que a sociedade — nós — encontramos um caminho para prosperar, apesar de tudo.
E não se iluda: o Brasil continuará a ser comandado, por muito tempo, por quem não entende nada de planejamento de longo prazo, por quem confunde gestão pública com promessas eleitorais e acha que déficit fiscal é coisa de quem tem “pouco coração”.
Mas e daí?
Como investidores, continuaremos fazendo o que sempre fizemos: investindo nas empresas sólidas, bem geridas e que, apesar de tudo, geram valor.
A coragem de permanecer
Por isso, termino com um convite: permaneça.
Não porque o Brasil vai “dar certo” — essa é uma abstração inútil. Mas porque, mesmo quando “não dá certo”, ele continua sendo um dos mercados mais vibrantes, desafiadores e, paradoxalmente, lucrativos do mundo.
E, mais do que isso: porque desistir é entregar aos amadores, aos aventureiros, aos oportunistas. E não… não somos desse tipo.
Somos investidores que entendem que o jogo é longo, que a paciência é uma virtude e que, quando a poeira baixar — e ela sempre baixa —, aqueles que permanecerem colherão os frutos.
Sim, o momento é de incerteza. Mas, se há algo que o Brasil me ensinou — e, olha, ele me ensinou muita coisa —, é que quem tem coragem de continuar, mesmo quando tudo parece perdido, geralmente termina vencendo.
Ou, pelo menos, termina com boas histórias para contar.
E você sabe: quem precisa abrir os olhos… é o dinheiro. Não eu.
—Ho-kei Dube
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