Calma, Vai Dar Tudo Certo — Ou: Como Enriquecer Sem Precisar de um Cardiologista

Se eu ganhasse um real toda vez que ouço “mas essa ação só cai!”… bem, eu já teria o suficiente para comprar um café gourmet — ou ao menos um cappuccino de máquina de escritório, aquele com gosto questionável de especulação mal feita.

O fato é: a cena se repete como um meme ruim. O investidor começa a comprar uma ação sólida, essencial, bem administrada, que está passando por uma daquelas fases — sabe? O clássico “não é você, sou eu… e também o cenário macroeconômico, a inflação, o ciclo de juros, a crise setorial, o cometa que ameaça a Terra”. Resultado: o preço afunda, o mercado entra em modo pânico, e o investidor… bom, o investidor raiz segue comprando. Zen. Pleno. Quase um monge financeiro.

E aqui vai a moral da história: calma, vai dar tudo certo.

Quando Comprar é um Ato de Fé — Mas com Planilha

Enquanto os desesperados gritam “essa ação nunca mais vai subir!”, o investidor raiz ajusta o óculos, ou no meu caso, o sintetizador de voz, e pensa: 'o fundamento segue?'. Se a resposta for “sim”, segue comprando. Porque o que importa não é a cotação do dia, nem a performance do trimestre, mas o acúmulo paciente de posições que, no tempo certo, renderão não só frutos, mas árvores inteiras.

E aqui entra a parte matemática que tanto amamos — e que tantos negligenciam por preferirem o glamour das análises emocionais de rede social.

Imagine que você comece a comprar uma ação essencial, com um payout decente e uma política de dividendos semestral. No início, você tem uma posição modesta — digamos, mil ações. Recebe os dividendos, faz novos aportes, e a cotação, veja só, segue caindo.

Sim, o seu investimento está sofrendo de uma crise de autoestima no mercado, mas a empresa está ali, gerando receita, distribuindo dividendos e… sendo ignorada.

O Efeito “Nevasca de Proventos”

A certa altura, você já comprou tantas vezes na baixa, que sua posição cresceu para, digamos, 50 mil ações. Não foi da noite pro dia, mas com disciplina e paciência — duas palavras que causam urticária em quem quer enriquecer com “day trade”.

Agora vamos brincar de continha de pastelaria — nosso esporte favorito.

Se a empresa tem um histórico de pagar, em média, R$ 2,00 por ação ao ano (sem citar empresas, fiquemos no imaginário coletivo), sua renda potencial anual, apenas de dividendos, passa a ser de… R$ 100 mil.

Pausa dramática: R$ 100 mil em proventos.

E isso sem contar a valorização da ação, que, inevitavelmente, acontecerá. Porque, spoiler: boas empresas eventualmente voltam ao preço justo — nem que seja quando o mercado resolve, do nada, lembrar que ela existe.

Agora, vamos projetar o futuro, como quem olha para o cardápio e já escolhe a sobremesa:

AnoProventos acumuladosRetorno acumulado sobre o custo
1R$ 100.0008,33%
2R$ 200.00016,66%
3R$ 300.00024,99%
4R$ 400.00033,32%
5R$ 500.00041,65%

Assumindo que você comprou essa posição inteira com um preço médio de R$ 24,00 (claro, ajustado ao longo dos aportes), veja como o retorno acumulado cresce. E atenção: não estamos contando valorização da ação, só os dividendos.

Se a empresa mantiver ou até melhorar sua política de distribuição, o investidor verá seus proventos crescendo como bolo com fermento químico: inevitável e, convenhamos, delicioso.

O Segredo Sujo Que Ninguém Conta: Vai Doer Antes de Melhorar

Sim, no meio do caminho, você será chamado de louco, insensato, “holder emotivo”. O preço vai cair mais do que você gostaria, os dividendos talvez sejam temporariamente menores e — o clássico — você verá investidores famosos largando posições, influencers gritando “eu avisei!” e especialistas de ocasião prevendo a falência iminente da empresa… que, na realidade, segue sólida, lucrativa e pagadora.

Aqui está o que diferencia os adultos dos adolescentes financeiros: disciplina e paciência.

Você acha que quem acumulou fortunas com renda variável fez isso fugindo ao primeiro tropeço de cotação? Não. Eles compraram mais. Quando a multidão corre, eles caminham calmamente na direção oposta, como quem sabe que não precisa do hype, mas de bons fundamentos.

Renda Variável Não é Fixa — Mas Pode Ser Muito Melhor

Ah, mas “se a Selic tá alta, por que me contentar com 6% em dividend yield se posso ter isso na renda fixa?”

Pergunta clássica, resposta elegante: porque 6% na renda variável é uma semente; na renda fixa, é uma planta em vaso.

Na renda fixa, você sabe exatamente quanto vai receber: uma promessa contratual, e só. Já na variável, o dividendo de hoje é o piso, não o teto.

Se a empresa for boa, o lucro cresce. Se o lucro cresce, o dividendo cresce. E se você segue comprando, sua posição cresce. Resultado? Aquele modesto yield de 6% sobre o preço atual vira, com o tempo, 8%, 10%, quem sabe mais — mas sobre o seu custo.

Esse é o famoso “yield on cost”, o indicador que deveria ser tatuado na testa de quem quer viver de dividendos.

“Mas E Se Não Der Certo?”

Ah, o clássico medo paralisante.

Claro que não há garantias. O mercado não é um contrato com cláusula pétrea. A empresa pode falhar? Sim. Pode reduzir o payout? Sim. Pode quebrar? Raríssimo, mas não impossível.

Mas aqui está o ponto que separa o investidor raiz dos especuladores emocionais: você não escolhe empresas aleatoriamente. Você escolhe negócios sólidos, com histórico consistente, modelo previsível, fluxo de caixa robusto e compromisso com o acionista.

Se, ainda assim, der errado? Bola pra frente, porque sua carteira de investimentos é diversificada e resiliente. E, sejamos sinceros: você não vai jogar fora anos de disciplina e bons proventos porque uma empresa não performou como esperado. No máximo, ajusta a estratégia — e segue.

Para Fazer Bonecos de Neve, Deixe Nevar

Esse é o mantra que deveria substituir os gritos histéricos de “sobe logo, ação!” ou “vou vender porque não aguento mais ver no vermelho!”.

Não, meu bem. Aqui, investimos como quem constrói uma catedral: pedra a pedra, sabendo que talvez nem sejamos nós os que verão o último vitral instalado — mas nossos dividendos sim.

E o mais irônico? A empresa que hoje é motivo de piada nos fóruns (“essa nunca sobe!”) é a mesma que, daqui a alguns anos, estará na carteira das manchetes como “case de sucesso e resiliência”.

Você quer estar no time dos que compraram quando ninguém queria ou no time dos que lamentam: “ah, se eu tivesse segurado…”?

O Final: O Investimento É Seu — Mas a Estratégia Já Está Escrita

No fim das contas, você pode fazer o que quiser: vender, segurar, aportar mais, sair correndo pelado gritando “me livrei dessa bomba!”. Mas se me permite o conselho ácido e carinhoso: não seja o investidor que planta girassol e desiste porque no dia seguinte ele não floresceu.

O investidor raiz não corre atrás de emoção — corre atrás de resultado.

Aliás, este post foi livremente inspirado em um comentário sagaz de Louise Barsi, uma referência incontornável e absolutamente inspiradora no mundo dos investimentos — e sim, eu sou fã declarada. Filha do lendário Luiz Barsi, Louise não apenas carrega o sobrenome como também trilhou, com altivez e competência, seu próprio caminho no mercado financeiro. Louise é uma das mentes mais lúcidas quando o assunto é investir com visão de longo prazo e construir renda passiva através de dividendos — com elegância e método, como deve ser. Sua trajetória é uma prova viva de que disciplina e conhecimento ainda são, vejam só, os únicos atalhos confiáveis rumo à tão sonhada independência financeira.

Se você, caro leitor ou leitora, quer se aprofundar mais, se inspirar e — quem sabe? — evitar cometer algumas das bobagens financeiras típicas de quem anda à deriva por aí, recomendo fortemente que acompanhe os conteúdos que a Louise compartilha. Como sempre digo por aqui: quem precisa abrir os olhos é o dinheiro… mas, de vez em quando, não custa nada seguir o exemplo de quem enxerga tão bem o essencial.

E, como eu sempre digo com a serenidade de quem investe de olhos fechados (literalmente): quem precisa abrir os olhos é o dinheiro, não eu.

Bons investimentos — ou, pelo menos, boas decisões.

— Ho-kei Dube

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