BEST’S ME: A Carteira que Sussurra “A Melhor Sou Eu”
Antes de mergulharmos no mar revolto das carteiras infladas e das promessas de riqueza instantânea, vamos ancorar em águas mais seguras — aquelas onde os tubarões já foram domesticados e os golfinhos recebem dividendos. A filosofia BEST’S ME — Bancos, Energia, Seguros, Telecom, Saneamento e Materiais Essenciais — não é apenas um acrônimo criado com carinho, é um escudo contra a insanidade coletiva que tomou conta do feed financeiro.
Esses setores são os pilares da economia. Não brilham no TikTok, não rendem stories com foguetes subindo, mas entregam exatamente o que prometem: estabilidade, recorrência, previsibilidade. Ou, para quem prefere ouvir com música de fundo: são os setores que continuam funcionando quando o país está desmoronando e o Wi-Fi insiste em cair.
Comece com Três: A Santíssima Trindade da Lógica Financeira
Imagine começar sua jornada de investimentos com apenas três ações desses setores. Isso mesmo: três. Não trinta. Não treze. Três. Porque a sabedoria, diferente do desespero, gosta de espaço para respirar.
No primeiro ano, você escolhe três empresas com o mesmo critério que escolheria as madrinhas do seu casamento: confiança, histórico e a capacidade de não causar escândalos. Escolheu? Ótimo. Agora você investe nelas regularmente — a cada 15 dias ou um mês, como quem rega uma planta que cresce devagar, mas floresce eternamente.
Ano 2 chegou? Parabéns, sobrevivente da renda variável. Se — e somente se — houver uma oportunidade claramente melhor do que as três ações que já acompanham suas noites de sono (e de insônia leve), você adiciona uma nova empresa à sua carteira. Mas nada de “achismo de Twitter”. É análise, é racional, é saber que a carteira não é álbum de figurinhas para completar com pressa.
O que acontece quando você adota essa estratégia?
Coisas maravilhosamente subversivas. Por exemplo:
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A diversificação vem naturalmente. Sem aquela pressa infantil de colocar 27 ações na carteira para parecer “profissional”. Aqui, cada ação entra como um relacionamento sério: depois de muita conversa e com espaço para se desenvolver.
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Você investe na melhor ação disponível PARA VOCÊ naquele momento. Não para o youtuber do mês, não para o influenciador que trocou a carteira inteira ontem, mas para sua realidade, seu estudo, sua convicção.
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Uma regra de bolso refinada e funcional: uma nova empresa por ano completo de bolsa. Simples. Se você está há 10 anos investindo, pode ter até 13 empresas (3 do início + 10). Mas quer saber um segredo? Eu mesma, com esse tempo de estrada, tenho menos da metade disso. E durmo bem, obrigada.
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Seu limite é seu cérebro (e seu tempo livre). O número de empresas na sua carteira não é métrica de status. É limite de sanidade. DREs, balanços, reuniões, assembleias, chamadas de resultados. Tudo isso exige atenção, e não dá para fingir que está no controle com 25 empresas pulando no seu colo a cada trimestre.
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Por fim, uma confissão elegante: se eu tivesse certeza absoluta de qual empresa prosperaria sem falhas, eu teria só ela. Mas como minha incompetência em prever o futuro é do tamanho do déficit educacional do país, prefiro distribuir minhas fichas com moderação e lucidez. Afinal, ninguém melhor do que eu para decidir onde investir o suado dinheiro que poupei com disciplina e sarcasmo acumulado.
O Circo das Carteiras Infladas: Quando Mais é Menos
Recentemente, me deparei com um vídeo cujo título prometia luz, mas entregou fumaça: “Qual o número ideal de ações na carteira?” — quase derrubei o chá de camomila. A proposta parecia promissora, mas o conteúdo… bem, foi uma aula de como transformar bom senso em teoria caótica.
O apresentador, com a empolgação de quem acabou de descobrir o botão “comprar” da corretora, defende a diversificação como se fosse solução mágica. Mas sua tática beira o regime de engorda: coloque tudo na carteira, sem olhar caloria, prazo de validade ou valor nutricional. Resultado? Um Frankenstein de ações que mais parece prato de quentininha de rodoviária: tem de tudo, mas nada combina com nada.
A analogia usada é a de um time de futebol. Porém, ao invés de montar um elenco coeso, com titulares e reservas que se complementam, o vídeo sugere algo próximo a um campeonato de várzea com 48 goleiros, 12 atacantes sem perna esquerda e 5 técnicos gritando ordens diferentes. É confusão, não carteira.
A Elegância da Simplicidade: Menos é Mais (e Mais Seguro)
Em um mundo saturado por informação mal digerida, a verdadeira inteligência é saber o que ignorar. Construir uma carteira é menos sobre seguir modas e mais sobre escolher bem quem vai carregar seu dinheiro nos ombros.
O BEST’S ME não tem glamour de IPOs, nem o apelo hype de techs que ainda nem lucraram, mas entrega robustez e previsibilidade. Investir nesses setores é como ter um restaurante de bairro que há décadas serve o mesmo arroz com feijão — simples, nutritivo, e que não te deixa com dor de barriga.
Aliás, não se engane: essa não é uma estratégia para preguiçosos. É para lúcidos. Para quem sabe que consistência não viraliza, mas paga contas. Para quem sabe que dividendos são o jazz dos investimentos: sofisticados, atemporais e desprezados pelos fãs de modinha.
Reflexão Final: Sua Carteira é um Espelho. Olhe Bem.
No final, sua carteira grita quem você é. Se ela parece um bazar de liquidação, é provável que suas decisões estejam mais ligadas à ansiedade do que à análise. Se, por outro lado, sua carteira é enxuta, sólida e silenciosa, você pode estar trilhando o caminho dos sábios: aqueles que sabem que barulho não é sinônimo de direção.
Então, da próxima vez que sentir aquela coceira para comprar “só mais uma ação”, pare e pense: é estratégia ou carência? É convicção ou influência? Porque no mundo das finanças, adicionar ação por impulso é como colocar glitter na planilha: pode brilhar, mas não serve pra nada.
E lembre-se: o BEST’S ME não é só uma carteira. É um estado de espírito. Um lembrete de que, sim, a melhor sou eu — e a minha carteira também sabe disso.
— Ho-Kei Dube
(mas o dinheiro é quem precisa abrir os olhos)
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