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A Tragédia do Investidor Hesitante: por que “ser ou não ser” virou “comprar ou esperar” — e o mercado agradece a sua paralisia com juros compostos

“O resto é silêncio.” Mas antes disso, o mercado grita. Ele grita em leilões nervosos, em índices que cambaleiam como nobres traídos e em relatórios com cheiro de sangue seco. Grita através de analistas que mais parecem arautos de uma corte decadente, tentando vender dignidade com taxa de administração. Grita nas suas notificações bancárias, nas suas planilhas corrompidas, no saldo que implora para ser salvo — ou para ser esquecido. E então você hesita. Na dúvida entre agir ou observar, entre assumir o risco ou preservar a pose. E com isso, inaugura seu próprio monólogo. Não o shakespeariano, mas o financeiro. Mais uma variante do eterno dilema: ser ou não ser... investidor de verdade? Porque veja bem, os dilemas morais do teatro clássico se reinventaram. Hoje, entre uma TED e um PIX, você não precisa mais escolher entre a vingança e o silêncio. Só precisa decidir se vai aplicar no prefixado ou continuar assistindo às tragédias econômicas do país com a pipoca da inércia. O Prínc...

Qualidade Invisível: Como Farejar Oportunidades que o Mercado Ainda Não Vê

Você já sentiu aquela sensação estranha quando uma empresa “desinteressante” de repente dá sinais de vida? Aquela fagulha é o cheiro de pepita – não pó de ouro, mas algo bruto, grande e irresistível. Só que para encontrá-la é preciso saber farejar, não mirar em gráficos. Por que o qualitativo vale mais que o quantitativo Todo mundo ama números. Eles são frios, certos, seguros. Eles tranquilizam seu app bancário, mas raramente contam toda a história. Aquele indicador redondinho, que dispara se tudo der certo, pode estar ocultando decisões tolas por trás de uma fachada rentável. O que realmente faz um investimento valer é a cultura da empresa, a cabeça de quem a dirige e a clareza com que ela aloca recursos. Quando as lideranças mostram, nas entrelinhas, que não estão comprando ilusões, mas sim ativos reais – bem avaliados –, meu radar apita. Esse instinto não é superstição: é experiência concentrada no tato. Cena de mudança – e não é num terminal de TV Imagine uma companhia que sem...

A Glamourização do Cansaço e Outras Mentiras com Hora Marcada: Por que fingir pressa virou mais lucrativo do que investir bem — e mais viciante do que reclamar do chefe em looping eterno?

Não sei o que me espanta mais: a pressa ou o orgulho que a acompanha. A cada esquina — ou aplicativo — há alguém contando com satisfação mórbida quantas reuniões já sobreviveu no dia. Como se o número de compromissos fosse sinal de relevância existencial. Como se estar indisponível fosse um novo tipo de inteligência. A pressa virou capital simbólico. E o tempo, um imposto progressivo: quanto menos você tem, mais importante parece ser. Não por acaso, as pessoas mais ocupadas do planeta são aquelas que se orgulham disso em mensagens de voz com velocidade 2x. Curioso. Durante anos, achamos que o luxo seria ter tempo. Mas a vida corporativa — sempre ela — tratou de inverter essa lógica com o afinco de quem estica elástico até virar coleira. Hoje, quem aceita um convite de última hora é “desocupado”. Quem está disponível é “suspeito”. E quem diz “posso sim, vamos agora” vira alvo de desconfiança. Deve estar em decadência. Ou pior: deve ser pobre. Elogio ao cansaço como novo colar de pé...

A Bolsa é um Baile de Máscaras — e eu só danço com quem sabe o preço do vestido

Há dias em que o mercado financeiro parece mais um carnaval fora de época. Não aquele carnaval que se prepara durante o ano, com fantasias bordadas e coreografias ensaiadas. Não. É o carnaval improvisado, de quem vestiu o que tinha, pegou emprestado um tamborim e saiu gritando que o bloco é seu. E no meio dessa multidão, vejo investidores — e investidoras — disputando quem pula mais alto, como se a altura do salto fosse garantia de prêmio. O problema é que, no mercado, saltar mais alto não significa chegar mais longe. Às vezes, significa apenas torcer o tornozelo antes da música acabar. Eu já vi essa festa antes. Gente que compra porque “todo mundo está comprando”, gente que vende porque “todo mundo está vendendo” — como se a vida financeira fosse uma partida de dominó, e a queda de uma pedra fosse o argumento mais convincente do mundo. Mas se há algo que aprendi, principalmente depois que perdi a visão, é que as melhores oportunidades raramente se anunciam com confete e serpentina....

O Ícone do 'Salvar' Não É Relíquia: É Espelho

Há quem ache graça quando uma criança olha para um disquete antigo e pergunta se é “o ícone do salvar impresso em 3D”. Risada garantida, piada pronta. Mas, convenhamos: por trás da anedota de tecnologia antiga sempre espreita uma metáfora desconfortável — a de que tudo o que hoje nos parece sólido e indispensável, amanhã será apenas peça de museu, ou piada de estagiário. O mercado financeiro, por sinal, é especialista nesse truque de ilusionismo: transforma o eterno em descartável e o descartável em ouro reluzente, até que a próxima moda chegue para decretar obsolescência. Um fax, já diria o aspirante a inventor visionário, nada mais é do que um e-mail analógico que exigia papel, linha telefônica e paciência zen. O que dizer, então, da nossa fé atual em aplicativos que prometem enriquecer com três cliques? Amanhã, talvez uma criança pergunte: “Esse era o app que ensinava adulto a gastar menos do que ganha? Nossa, que coisa pré-histórica!”. Assim como o LP foi rebatizado de “CD gigant...

Honestidade Dá Lucro (e Outras Verdades Que os Cursos de Administração e Finanças Não Contam)

Quando foi a última vez que alguém te recomendou estudar contabilidade sem te prometer um milhão em 12 meses? Pois é. Vivemos numa era em que a palavra “lucro” foi sequestrada por gurus de internet com dentes perfeitamente alinhados e gráficos coloridos saindo da orelha. Nessa selva de promessas de “mentalidade milionária” e “carteiras de liberdade financeira”, ouso começar este texto com uma proposta indecente: e se você aprendesse a lidar com dinheiro sem virar um mercenário emocional? Não se assuste, eu não vim evangelizar ninguém. Só quero te contar, com meu olhar crítico e uma dose de sarcasmo, como princípios práticos — e nada sexys — como honestidade, economia e senso de realidade são, na verdade, as verdadeiras moedas fortes desse mercado tão alucinado quanto um trader em dia de café duplo. Aprender Contabilidade é Melhor que Comprar Bitcoin na Lua Sim, eu sei. A palavra “contabilidade” tem o mesmo apelo de “colonoscopia preventiva” para muita gente. Mas aqui entre nós: apre...

Investir é Plantar na Chuva e Colher no Silêncio — Por que o lucro não avisa quando brota

Dizem que investir é como plantar: exige paciência, um pouco de fé e disposição para lidar com o clima — que, como o mercado, nunca consulta seu calendário antes de mudar de humor. Eu, pessoalmente, prefiro pensar que investir é como lidar com um vizinho excêntrico que insiste em lhe oferecer preços diários pela sua casa: na segunda, ele te oferece uma ninharia; na terça, quer pagar o dobro; na quarta, ignora você porque estava ocupado brigando com o cachorro. E você ali, firme, lembrando-se de que o valor da sua casa não muda porque ele acordou mal-humorado. Foi observando histórias assim que aprendi a olhar para investimentos: não como figurinhas brilhantes de um álbum que se trocam no recreio, mas como algo mais prosaico — e mais sólido. O tipo de coisa que não exige consultas diárias ao oráculo do noticiário econômico, mas sim a capacidade de fazer perguntas simples e tolerar o silêncio das respostas. Não se trata de ser especialista. Um casal que conheci, por exemplo, comprou um p...

O PIB Não Usa Bengala: Como a Economia Finge Que Pessoas com Deficiência Não Existem

Comecemos pelo óbvio que ninguém gosta de dizer em voz alta: a economia oficial tem baixa visão. Enxerga taxas e gráficos com nitidez, mas tropeça nos corpos que não cabem na régua. Se o PIB é um telão em 4K, a vida de quem precisa de acessibilidade costuma ser lida num rádio chiado. E, quando a imagem falha, o sistema faz aquilo que o sistema faz de melhor: culpa o usuário. De cada cem pessoas que circulam no planeta, algo como dezesseis vivem com alguma forma de deficiência — um em cada seis de nós. Não é minoria técnica; é maioria ignorada pela contabilidade do costumeiro “não dá”. Não precisa acreditar em mim: é o que os dados internacionais indicam, com todas as letras e sem romantismo. “Mas e o Brasil?” — pergunta quem gosta de números como quem gosta de ver para crer. O retrato oficial mais recente aponta algo na vizinhança de um dígito, dependendo da régua metodológica aplicada. É aqui que a lupa ética entra em cena: a forma de perguntar define o que se enxerga. O Censo 2022 ...

A Elegância de Esperar: Por que Investir Também É um Ato de Paciência Radical

Dizem que o tempo é dinheiro. Mas, curiosamente, nos investimentos, é o contrário: é o dinheiro que se revela com o tempo — e apenas aos que sabem esperá-lo. Meus queridos e minhas queridas, o mercado financeiro tem pressa, sim, mas só para vender promessas. Para colher retornos de verdade, a pressa atrapalha. E como atrapalha. Hoje quero falar sobre um gesto subestimado, quase escandaloso na era do imediatismo: esperar. E não me refiro à espera passiva de quem empurra boletos com a barriga enquanto sonha com o próximo “milhão fácil” prometido por algum paladino da mentalidade vencedora. Refiro-me à espera ativa, aquela que exige coragem, discernimento e uma resistência quase poética à ansiedade coletiva. Quando todo mundo corre, quem para é revolucionário É claro que o mercado grita. Ele berra gráficos coloridos, curvas ascendentes, análises histéricas e projeções que mudam mais que os humores de Brasília. Enquanto isso, o investidor ou a investidora que ousa não fazer nada — que e...

O Patriota do Extrato Bancário: como a hipocrisia nacional também rende dividendos

A palavra “nação” é uma dessas invenções geniais que cabem em qualquer bolso — de preferência, no bolso fundo de quem já tem a carteira recheada. É um termo que desfila com pompa em discursos inflamados, mas que, quando você puxa a planilha da vida real, se comporta como uma célula vazia no Excel: qualquer dado que você colocar ali parecerá plausível. Para uns, “nação” é a bandeira hasteada na sacada do prédio de luxo; para outros, é o meme compartilhado com fúria em grupos de família. E, para quase todos, é o álibi perfeito para manter as coisas exatamente como estão. É curioso como a tal “pátria amada” costuma ser invocada com ardor sempre que os privilégios do invocador correm o menor risco de sofrer arranhão. “Nação acima de tudo!” — grita o acionista, até que a mesma nação cogite tributar seus dividendos. Nesse instante, a bandeira tremula apenas no varal da lavanderia. O patriotismo, descobrimos, é um ativo de liquidez diária: está em alta quando protege fortunas, e em baixa qua...

O Dinheiro Que Queima: Como Empresas Distribuem Amor (e Dividendos) em Notas Tóxicas de R$100

O Fluxo Que Encanta — e Quebra O capitalismo tem um talento peculiar para maquiar um enterro como se fosse um desfile. Não é raro ver empresas quebrando em câmera lenta enquanto seus balanços sorriem para os analistas, acenando com lucros polidos e dividendos maquiados como debutantes em busca de pretendentes desavisados. Mas aqui entre nós — que já paramos de nos iludir com “mentalidades milionárias” e “liberdades financeiras” vendidas em cápsulas aromatizadas de autoajuda — há algo que precisa ser dito: lucro contábil é como um sorriso no velório. Pode ser sincero, mas quase sempre é de conveniência. Porque o que realmente mantém uma empresa viva, respirando, pulsando e pagando os boletos — inclusive os nossos dividendos sonhados — é o fluxo de caixa. O bendito, sagrado e frequentemente ignorado Fluxo de Caixa Livre , também conhecido pela sigla FCL ou, se você quiser soar mais chique na mesa do brunch, Free Cash Flow . E por que isso importa? Porque, meu bem, é da “sobra” de din...

Fatia da Mente ou Farsa do Marketing? — Por que a Coca é mais eterna que sua aposentadoria?

Onde mora o dinheiro? Na mente, meu bem. Você já se perguntou por que uma criança de três anos reconhece o logotipo de uma empresa antes de conseguir escrever o próprio nome? Não é bruxaria, tampouco talento precoce. É marketing, é domínio, é ocupação de território — e o território em disputa é o córtex pré-frontal da sua inocência. Sim, meu caro leitor: o que move bilhões em ativos e dividendos todos os dias não é a tecnologia por trás do produto, nem a suposta “inovação disruptiva” celebrada em eventos de gente muito pálida com blazer azul-marinho. O que importa é o que essa marca evoca — não no balanço, mas no seu cérebro. Isso mesmo. O mercado, que adora simular racionalidade, é um eterno refém de um fenômeno profundamente emocional chamado fatia da mente . Você pode até esquecer o que jantou ontem, mas vai lembrar da musiquinha da Disney até cansar de pedir música no Fantástico. Coca no topo da muralha, e você no rodapé da planilha Tem gente que acredita que Coca-Cola é refri...