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Fique Parado (mas com Elegância): Sobre o Delicado Prazer de Não Fazer Nada Quando Todos Estão Gritando "Compra!"

Há um ditado tibetano que não entra nas planilhas nem nos stories motivacionais: “Não se atravessa um rio movendo-se com a corrente — atravessa-se quando a água baixa e os pés encontram o chão.” Simples, direto, e como toda sabedoria ancestral, assustadoramente lúcido. Foi lembrando dessa máxima que decidi escrever este texto. Enquanto os feeds se enchem de foguetes apontando para os céus da Bolsa, carteiras vestidas com brilho de alta performance e investidores performando vídeos no TikTok com a empolgação de uma criança que descobriu o botão da máquina de chicletes, eu optei por fazer o impensável: parar. Sim, parei. Não vendi, não comprei, não reorganizei a carteira, não revisei o “preço justo” das minhas queridas ações. Apenas fiquei quieta. E se você quer saber, foi uma das decisões mais sofisticadas que já tomei com meu dinheiro. Mais ainda: foi uma decisão espiritual. Porque “parar” é diferente de “não fazer nada”. E essa diferença, meu caro leitor ansioso, vale mais que uma ...

O Último Silêncio Antes do Pop-Up (e por que isso pode ajudar investidores?)

De todas as revoluções possíveis no século XXI — a digital, a genética, a climática e a das figurinhas animadas — talvez a mais urgente seja esta: reaprender a permanecer. Permanecer no parágrafo. Na ideia. Na frase que não entrega tudo de bandeja, mas exige um gole de tempo e dois de atenção. Permanecer mesmo quando o celular tilinta, o relógio vibra e o mundo sussurra que pensar demais é improdutivo. Porque ler — eu digo ler de verdade, com o fígado e não com a digital — virou, sim, um ato subversivo. E não falo aqui de decorar jargões de coach ou folhear livros coloridos com resumos prontos. Falo da leitura que desafia a pressa e espanca o algoritmo. Aquela que desorganiza certezas e, por isso mesmo, reorganiza o pensamento. Mas quem ainda lê assim? A Falência do Foco Parcelado Hoje, para ler um parágrafo inteiro, é preciso vencer uma maratona de estímulos: banners piscando, vídeos que prometem mudar sua vida em 14 segundos e alertas de promoções que nunca te promovem a nada a...

A Economia dos Idiotas Únicos — Por que acreditar em um vilão só é o investimento mais caro da sua vida

Dizem que o mundo moderno é obcecado por respostas fáceis. A internet está cheia de gurus que explicam a crise da sua vida em três passos, o fim da inflação em um reajuste mágico e a liberdade financeira em uma planilha colorida que, se fosse levada a sério, já teria resolvido até a dívida externa do Egito Antigo. Pois bem: apresento-lhes o espécime mais perigoso do mundo dos negócios e da fauna econômica contemporânea — o Intelectual de Uma Variável Só . Esse sujeito é a versão financeira do terraplanista: vive num mundo achatado, sem relevo, onde um único fator explica tudo. Para ele, a culpa de todos os males é dos juros. Ou da concentração de renda. Ou do capitalismo. Ou do Estado. Ou do mercado. Tanto faz. A lógica é sempre a mesma: um vilão único, uma cura milagrosa, um aplauso fácil . E é justamente por isso que fazem tanto sucesso. O Fast-food das Ideias Vivemos num tempo em que as pessoas têm preguiça de mastigar conceitos. Querem soluções embaladas, sem espinhas, fáceis ...

Rebelar é Investir — Ou por que os verdadeiros rebeldes quebram a lógica de mercado com dividendos

Se rebeldia fosse uma ação, estaria em alta, custando fortuna e com todo mundo convencido de que é bonitinha. Mas deixe-me contar: os rebeldes que realmente fazem história — e dinheiro — são os que investem onde o aplauso ainda não chegou, os que acreditam que o valor embutido em uma empresa fala mais alto que o ruído do momento. E é aí que está o veneno financeiro com verniz: provocador, elegante, proposital. Rebeldes que não se parecem com heróis de filme Gandhi nunca fez memes motivacionais. Martin Luther King Jr. não tinha briefing de marketing. Steve Jobs não era heroico pelo brilho da sua aura, mas pela audácia de ir contra o conformismo do teclado e da tela. Esses são os rebeldes que importa citar, porque, por mais que o mercado tente transformá-los em slogans, você sente o peso real da visão e não da hashtag. Obviamente, inspiração financeira também tem seu repertório de inconformistas. Em terras brasileiras, Luiz Barsi Filho — conhecido como “rei dos dividendos” — recusou o...

Quem Planta Esperança Investindo por Inveja Hoje, Acaba Colhendo Frustração Amanhã.

Voltei com o mesmo tema da inveja, mas com ar altivo de comparação. Você já ouviu o conselho universal dos infelizes performáticos? “Se compare apenas consigo mesmo.” Pois eu lhe digo: até isso é perigoso — porque até o “você mesmo” de ontem anda dopado de expectativas irreais e métricas que ninguém pediu para seguir. A lógica da comparação, quando se instala no campo financeiro, é como plantar inveja e esperar colher dividendos. O resultado é sempre o mesmo: carteira ansiosa, decisões histéricas e uma sensação crônica de estar atrasado na vida. Não importa se você tem 20 ou 70 anos — se caiu no ciclo da comparação, já entrou no lucro dos outros e no prejuízo do seu juízo. A bolsa não é um espelho mágico Não sei quantos milhões de vezes já repetiram que “cada investidor tem um perfil”, mas o que isso importa quando a métrica invisível é o lucro alheio postado em redes sociais maquiadas com filtro de sucesso? Comparar sua jornada com a de outra pessoa no mercado é como criticar o sa...

O Passado Também É Volátil, Principalmente Quando Está Em PDF: Como o passado financeiro virou um PowerPoint com transtorno dissociativo?

Algumas pessoas mentem com a boca. Outras, com os dedos. E há aquelas que preferem mentir com uma planilha. São as mais perigosas: usam gráficos como álibis, retroprojeções como áureas santificadas e médias históricas como bengalas para justificar toda sorte de dogmas financeiros. Há quem diga que o passado é imutável. Essas almas puras, que provavelmente ainda acreditam em comunicados do RI como literatura honesta, esquecem que o passado é editável. E não só por governos autoritários ou por roteiristas de novela revisionista, mas por gestores, economistas, investidores — e até por você, leitor ou leitora, que já limpou o extrato para apresentar um histórico “menos caótico” à terapeuta ou ao cônjuge. Não se engane: o passado financeiro é uma colcha de retalhos reencapada a cada ciclo de mercado. É a arte do “não foi bem assim”, o balé da “reestruturação contábil”, o sarau da “mudança metodológica”. E quando os números não cooperam com a narrativa, trocam-se os números — ou trocam-se ...

A Tragédia de Ser Comparável: Quando a inveja se disfarça de inspiração e o feed vira régua de fracasso

  A Tragédia de Ser Comparável Comparar-se pode parecer um gesto ingênuo — um deslizamento leve da mente que, ao tropeçar no feed alheio, suspira: “eu também queria”. Mas não se engane. Comparar-se, hoje, é um ritual tóxico e industrializado, embutido na engrenagem da produtividade, da felicidade obrigatória e dos lucros de curto prazo. É o novo jejum intermitente da autoestima: você se priva de dignidade em ciclos de 24 horas, esperando que, em algum momento, seu valor de mercado reaja. A tragédia moderna não é não ser feliz. É parecer infeliz diante de um algoritmo que empilha sorrisos plastificados como se fossem dividendos ininterruptos de uma vida bem-sucedida. Você, que trabalha, respira, paga boletos e ainda sonha com uma aposentadoria honesta, passa a sentir que está falhando — porque alguém, em algum lugar, está construindo o próprio castelo com blocos de felicidade cor-de-rosa no LinkedIn. Mas não se engane: muitas das vezes os muros são de isopor. E o telhado, de ment...

Startup de Dia, Colônia Penal à Noite: Entre rooftops e metas inatingíveis, o mercado infantiliza, glamoriza e devora quem ainda acredita em propósito embalado a vácuo.

Não é que mentiram para você. Mentiram em cima de você . Com slogans, vídeos motivacionais, powerpoints com emojis e um RH vestido de unicórnio. Mentiram com aquela entonação doce dos comerciais de margarina vegana e com a convicção dos coachs que parecem saídos de uma peça infantil encenada dentro de um banco. Mentiram com a crueldade de quem sorri enquanto avalia metas inalcançáveis, e com a pressa de quem precisa te moldar em três meses para a próxima demissão humanizada. Você não fracassou. Você apenas acreditou. Acreditou que a felicidade corporativa existia, que o rooftop era o novo altar e que o crachá vinha com propósito embutido. Acreditou que o "espírito jovem" era um ativo negociável, e que sua autoestima de 23 anos sustentaria sozinha o peso do Excel, das metas e da cobrança disfarçada de cultura. É compreensível. Afinal, era tudo tão... fofo. Um escritório com bichos, um home office com aromaterapia, um time diverso que faz dancinhas. Até o plano de saúde era ...

Como Fazer Amor com a Bolsa em Queda (E Rir da Cara do Medo Enquanto Isso)

Vamos começar com um pequeno spoiler: o medo não é o vilão. A burrice precipitada é. O medo só aparece de terninho quando você começa a investir sem espinha dorsal — ou, pior, com base nos sussurros do vizinho que investe como quem joga War: com bravatas, sem estratégia, e gritando "ataque total!" para a carteira inteira, inclusive os CDBs. Agora que já rimos da desgraça alheia — e um pouco da nossa própria — vamos falar sobre a coisa mais sexy que um investidor pode ter: frieza emocional durante o apocalipse. Não me refiro ao tipo de frieza que ignora sentimentos, mas àquela que olha para a Bolsa sangrando como quem olha para o ex com roupa de academia no Instagram: dói, mas passa. A síndrome do “é diferente dessa vez” Repare que o medo da crise é tão fiel quanto a inflação no Brasil: sempre volta. Toda vez que a Bolsa cai, alguém surge com a ladainha: “Essa crise é diferente”. E é mesmo. Todas são diferentes — nos detalhes. Nos sentimentos que evocam? São rigorosamente i...

Pepitas Óbvias, Cálculos Desnecessários: A Elegância de Investir Sem Virar Escravo da Planilha

Confesse, caro leitor: você já abriu um relatório de investimentos e se sentiu num curso de estatística aplicada ao tédio? Linhas, colunas, gráficos, taxas de desconto, projeções até 2047 e um entusiasmo tecnocrático digno de quem acredita que o futuro é uma equação resolvível — desde que com a calculadora certa. Ou melhor, com a IA certa, o algoritmo certo, o Excel mais talentoso da sala. Pois bem: respire. Vamos abrir essa planilha e jogar um pouco de luz crítica sobre as fórmulas que prometem prever o imprevisível. Porque, veja, nem tudo que reluz é ouro — e muito menos se reluz em gráficos de pizza com fontes sans serif. Às vezes, o verdadeiro investimento brilhante é justamente aquele que não precisa de modelagem matemática para se sustentar. Ele grita. Ele cintila. Ele se impõe como pepita em rio raso. Mas a sofisticação do século XXI, veja só, virou a arte de ignorar o óbvio em nome do rebuscado. E aí, no lugar de minerar pepitas, estamos todos batendo cascalho — com IA, com da...

A Tragédia do Investidor Hesitante: por que “ser ou não ser” virou “comprar ou esperar” — e o mercado agradece a sua paralisia com juros compostos

“O resto é silêncio.” Mas antes disso, o mercado grita. Ele grita em leilões nervosos, em índices que cambaleiam como nobres traídos e em relatórios com cheiro de sangue seco. Grita através de analistas que mais parecem arautos de uma corte decadente, tentando vender dignidade com taxa de administração. Grita nas suas notificações bancárias, nas suas planilhas corrompidas, no saldo que implora para ser salvo — ou para ser esquecido. E então você hesita. Na dúvida entre agir ou observar, entre assumir o risco ou preservar a pose. E com isso, inaugura seu próprio monólogo. Não o shakespeariano, mas o financeiro. Mais uma variante do eterno dilema: ser ou não ser... investidor de verdade? Porque veja bem, os dilemas morais do teatro clássico se reinventaram. Hoje, entre uma TED e um PIX, você não precisa mais escolher entre a vingança e o silêncio. Só precisa decidir se vai aplicar no prefixado ou continuar assistindo às tragédias econômicas do país com a pipoca da inércia. O Prínc...

Qualidade Invisível: Como Farejar Oportunidades que o Mercado Ainda Não Vê

Você já sentiu aquela sensação estranha quando uma empresa “desinteressante” de repente dá sinais de vida? Aquela fagulha é o cheiro de pepita – não pó de ouro, mas algo bruto, grande e irresistível. Só que para encontrá-la é preciso saber farejar, não mirar em gráficos. Por que o qualitativo vale mais que o quantitativo Todo mundo ama números. Eles são frios, certos, seguros. Eles tranquilizam seu app bancário, mas raramente contam toda a história. Aquele indicador redondinho, que dispara se tudo der certo, pode estar ocultando decisões tolas por trás de uma fachada rentável. O que realmente faz um investimento valer é a cultura da empresa, a cabeça de quem a dirige e a clareza com que ela aloca recursos. Quando as lideranças mostram, nas entrelinhas, que não estão comprando ilusões, mas sim ativos reais – bem avaliados –, meu radar apita. Esse instinto não é superstição: é experiência concentrada no tato. Cena de mudança – e não é num terminal de TV Imagine uma companhia que sem...